sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Lar Escola São Francisco encerrará suas atividades após 82 anos de dedicação às pessoas com deficiência


São Paulo — Julho de 2025
— Uma das instituições mais tradicionais do país no atendimento especializado a pessoas com deficiência, o Lar Escola São Francisco, anunciou que encerrará suas atividades até o final deste ano. A decisão foi comunicada pela AACD, responsável pela administração da escola desde 2012.

Fundado em 1943 por Maria Hecilda Campos Salgado, o Lar Escola se tornou referência em acolhimento e reabilitação, especialmente para crianças e jovens com deficiências físicas. Desde 1951, funcionava como instituição de ensino especial, oferecendo apoio pedagógico, terapêutico e humano a milhares de famílias ao longo de gerações.

Hoje, atende 21 estudantes, dos quais seis devem concluir o ensino fundamental em 2025. A desativação foi justificada pela não renovação do contrato do imóvel e por pendências na regularização da licença de funcionamento.


Memórias de quem viveu essa história

O fechamento da escola causou profunda comoção entre familiares e ex-pacientes, que testemunharam a importância da instituição em suas vidas. Um dos depoimentos mais tocantes é da sra. Ana Tereza Frederico, mãe da educadora e ativista Alessandra Frederico, ex-paciente da instituição:

“LAR ESCOLA SÃO FRANCISCO... quanto acolhimento. Quanta esperança trouxe aos nossos corações. Tenho na lembrança cada um dos profissionais que cuidaram da minha filha. Um desvelo incessante... E era TO, fisioterapia, fisiatra, psicóloga... minha filha tinha todo o tratamento necessário para sua recuperação... eram três vezes por semana. Muitas idas e vindas... durante muitos anos. Conhecemos cada palmo dessa grande instituição. A oficina ortopédica onde eram feitas as botas... gratidão aos profissionais que nos apoiaram durante todo esse período!”

Com ênfase especial, a própria Alessandra Frederico, hoje ativista pelos direitos das pessoas com deficiência e, por sinal, idealizadora deste blog, relembra:

“Eu fiz, por 14 anos, tratamento lá. Comecei quando tinha 4 anos e meio, ou seja, desde 1977 até 1991. Saí porque completei 18 anos, idade em que tinha que sair para dar vaga para uma criança. Não encontrei, depois disso, nenhum lugar para fazer fisioterapia. Pois fisioterapia era necessário continuar; mas, devido à idade, parei.”

O depoimento de Alessandra revela um ponto crítico: a falta de continuidade no cuidado após a maioridade, realidade que ainda persiste para muitos adultos com deficiência.


O que será feito com os atuais alunos?

A AACD informou que:

  • Os estudantes serão transferidos para escolas da rede estadual de ensino regular;

  • Haverá suporte pedagógico e terapêutico durante o processo de transição;

  • Em 2026, poderá haver acompanhamento presencial nas novas instituições, conforme necessidade.


Famílias temem retrocesso

Apesar da promessa de acompanhamento, muitas famílias estão preocupadas. Um abaixo-assinado online expressa o temor de que a chamada “inclusão” seja apenas formal, deixando os alunos sem o suporte que sempre tiveram:

“Quando a inclusão é só discurso, quem paga o preço são as nossas crianças.”

Para estudantes com deficiências múltiplas, como muitos atendidos no Lar Escola, a adaptação à rede regular pode representar perda de qualidade no atendimento, ruptura de vínculos e descontinuidade no processo terapêutico.


O legado do Lar Escola São Francisco

Mais do que um centro de atendimento, o Lar Escola foi um espaço de esperança, dignidade e transformação, como evidenciam os relatos das famílias. Seu legado está impresso não apenas na história da reabilitação no Brasil, mas também nas trajetórias de vida que ajudou a construir.


O que muda a partir de agora?

Situação AtualA partir de 2026
Atendimento especializado e integralInserção em escolas públicas regulares
Equipe multidisciplinar no mesmo localApoio externo oferecido conforme demanda
Continuidade no mesmo espaço físicoRecomeço em nova estrutura escolar

Conclusão

O fim do Lar Escola São Francisco é muito mais do que o fechamento de um prédio: é o encerramento de um ciclo histórico de cuidado, técnica e amor. Como lembra Ana Tereza, era um lugar de acolhimento. Como afirma Alessandra, foi sua base durante 14 anos. Que os passos seguintes não esqueçam essas vozes.

É essencial que a transição para a rede regular ocorra com planejamento, empatia e estrutura real, garantindo o direito de aprender e ser cuidado com dignidade — em qualquer idade.

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