quinta-feira, 5 de junho de 2025

“O que os olhos não veem,... o outro nem sempre entende”

Explicar uma deficiência visual nem sempre é uma tarefa simples. Para quem enxerga normalmente, compreender os limites, as adaptações e as necessidades de alguém com baixa visão ou cegueira total pode ser um desafio. Por mais boa vontade que haja, faltam muitas vezes referências concretas para que o vidente compreenda o que significa “ver pouco”, “ver com distorções” ou “não ver nada”. Além disso, questões emocionais, sociais e culturais tornam esse diálogo ainda mais delicado. A seguir, destacamos cinco fatores que dificultam essa comunicação.

1. Falta de referência visual compartilhada

A maioria das pessoas videntes entende o mundo com base em imagens e comparações visuais. Quando o deficiente visual tenta explicar algo como “minha visão é como uma névoa” ou “enxergo vultos e luzes”, o interlocutor pode não captar a real limitação, pois não tem uma referência concreta do que isso significa.


2. Preconceitos e estereótipos

Muitas pessoas ainda têm uma ideia binária de que a pessoa é “cega total” ou “enxerga normalmente”. Isso dificulta o entendimento das diversas formas de baixa visão. Quando o deficiente visual diz que enxerga um pouco, mas precisa de bengala, por exemplo, isso pode gerar confusão ou julgamento (“mas se você vê, por que precisa de ajuda?”).


3. Desconhecimento técnico da própria condição

Alguns deficientes visuais, principalmente os que adquiriram a deficiência há pouco tempo, não dominam os termos técnicos (como escotomas, acuidade visual, campo visual). Isso dificulta traduzir sua realidade de forma clara para alguém que nunca passou pela experiência.


4. Constrangimento ou exaustão emocional

Muitas vezes, o deficiente visual precisa explicar repetidamente sua condição a diferentes pessoas, o que pode gerar cansaço emocional. Além disso, dependendo da reação do interlocutor (pena, incredulidade, desconforto), a pessoa com deficiência pode sentir-se constrangida ou desestimulada a se explicar.


5. Expectativa de normalidade ou negação da limitação

Há quem reaja com frases como “mas você parece tão bem” ou “nem parece que você tem deficiência”, o que deslegitima o relato do deficiente visual. Isso cria uma barreira na comunicação, pois o interlocutor minimiza ou nega a realidade narrada.


Reconhecer essas dificuldades é um passo importante para construir pontes de entendimento e respeito. Quando ouvimos com empatia, fazemos perguntas com sensibilidade e nos dispomos a aprender com o outro, abrimos espaço para uma convivência mais inclusiva. Explicar uma deficiência pode ser cansativo, mas ouvir com o coração aberto pode transformar a forma como enxergamos — mesmo sem precisar ver.

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