“Se vier, agora, um cego ao museu, ele vê o que nós vemos”. Foi desta maneira simples que Maria Amélia Miranda, presidente da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, deu a conhecer o projeto “Museu sem Barreiras”, pioneiro em Portugal.
“Os museus têm um papel social e educacional muito forte, já não são locais fechados. Daí a nossa preocupação em integrar as pessoas com necessidades especiais – cegos, amblíopes e com deficiência motora, nomeadamente pessoas com paralisia cerebral”, referiu.
O projeto de acessibilidades resulta de anos de trabalho e “dedicação”. Para a sua concretização, a fundação contou com a parceria da Fundação Portugal Telecom e com o apoio da Universidade de Letras do Porto, nomeadamente, através do trabalho de pós-graduação de Sónia Santos. Mesmo assim, foram muitas as dificuldades sentidas.” É um mundo diferente do nosso, por isso, foi complicado entrar nele. Não se fala para um idoso da mesma maneira que se fala para uma criança. Da mesma maneira que não se fala para um cego como se fala para um amblíope”.
“Saber escrever para todos” foi uma das várias formações que o Serviço de Educação do Museu sentiu necessidade de desenvolver para a criação dos dossiê de cada tipo de deficiência. A par disto, o museu também proporcionou aos seus profissionais ações de formação na Associação dos Cegos de Portugal e na Portugal Telecom.
Este plano, que pretende eliminar barreiras, envolveu o trabalho de todos. “Até o empregado do restaurante teve que ter formação para saber como acolher pessoas com necessidades especiais”. Amélia Miranda dá o exemplo do dossiê para amblíopes “A letra é verdana, de tamanho 24 e com ausência de cor, porque a cor introduz perturbações em quem vê mal”.
Além do dossiê específico para cada tipo de deficiência, o museu vai estar dotado com um guia em braille para os invisuais e amblíopes e outro para os acompanhantes. “A informação estará disponilizada em braille e em suporte digital”. E, como não há cegos só em Portugal, o guia estará também disponibilizado na língua inglesa.
Na elaboração dos dossiês, o destinado aos cegos foi, para a presidente, o mais complicado de realizar “Eles fizeram-nos reparar em coisas que, até então, não tínhamos reparado, o que, apesar de trabalhoso, foi bastante gratificante”.
Nas palavras de Amélia Miranda, o trabalho das acessibilidades ainda não está concluído. “Ainda há muito a fazer. Isto é apenas uma agenda de intervenção, um início com continuação”. O próximo passo do museu é a “remodelação total do site, com uma linguagem para todos os públicos. Assim, qualquer pessoa pode aceder ao site”.
O museu “teve sempre como objetivo chegar a todo o tipo de públicos” e o projeto “Museu sem Barreiras” foi “mais um passo nessa direção”. Agora, pessoas com capacidades limitadas podem conhecer o museu de uma forma autónoma.
O Museu do Papel Moeda revela a história do dinheiro e do papel fiduciário em Portugal e reúne um espólio notável, que abrange várias coleções, de que são exemplo as notas do Banco de Portugal. A acrescentar a isto, foi um dos nove museus escolhidos pelo Alto Comissariado da Emigração para a elaboração de um projeto sobre o diálogo intercultural.
Fonte: TURISMO ADAPTADO
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