sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Acessibilidade e Ética - Fatos e Questões


Ontem à noite, no HSBC Brasil (São Paulo), o ator Marcelo Serrado apresentou seu espetáculo de humor stand-up "Tudo É Tudo e Nada É Nada". A apresentação contou com recursos de acessibilidade para deficientes visuais (audiodescrição) e auditivos (intérprete de LIBRAS - Linguagem Brasileira de Sinais).

Sobre a peça:
O espetáculo mistura stand up e show de humor. Marcelo Serrado, sucesso na TV e também no teatro, conta fatos do cotidiano, acontecimentos pessoais e observações particulares sobre a vida, as pessoas e as coisas através de histórias curiosas, as dificuldades e situações engraçadas enfrentadas na profissão de ator, e ainda uma paixão da adolescência.
(Fonte: Ver Com Palavras).

Logo na entrada, fomos encaminhados a um "stand" da Ver Com Palavras, empresa responsável pelo serviço de audiodescrição para o espetáculo, onde nos foi entregue um dispositivo sonoro através do qual, ao longo do espetáculo, seria feita uma descrição do cenário, dos figurinos utilizados no espetáculo e, também, da expressão corporal e movimento do(s) ator(es) em cena.

Meia hora antes do início do espetáculo propriamente dito, cada um dos usuários do dispositivo foi nominalmente saudado e, logo após, ouviu uma pequena apresentação da empresa e (o mais interessante) uma pequena descrição da casa de espetáculos HSBC Brasil, o que não costuma acontecer nas apresentações em que o recurso não é utilizado.

Com relação à audiodescrição, houve momentos em que falava junto com o ator, o que acaba fazendo com que o ouvinte perca trechos da fala para prestar atenção ao que está sendo dito pela audiodescritora. Uma sugestão seria que a(s) pessoas(s) encarregada(s) da audiodescrição assistam a uma ou duas apresentações da peça sem o recurso para avaliar a necessidade e os momentos ideais para intervenção.

Já no que se refere à presença de um(a) intérprete de LIBRAS (essa sim, essencial para a compreensão do espetáculo por parte de pessoas com deficiência auditiva), o trabalho foi perfeito. Desnecessárias seriam, talvez, as constantes referências do ator à intérprete da linguagem de sinais, nem sempre tão "palatáveis" para quem tem deficiência auditiva ou qualquer outro tipo de limitação. Mas isso não nos cabe aqui julgar - deixemos para os críticos de arte. Fica, sim, uma indagação a título de curiosidade: será que, quando se faz alguma espécie de "gozação" em relação aos deficientes auditivos, é feita uma "filtragem" pelos intérpretes de LIBRAS e a parte "menos adequada" do discurso é eliminada ou ele chega "sem censura" aos ouvidos (ops....aos olhos) de quem não ouve? Autores, diretores, produtores e audiodescritores, reflitam!

No geral, louve-se a iniciativa de tentar a inclusão de pessoas com deficiência nas platéias. Mas é importante saber que ainda há um gigantesco caminho a ser percorrido por todos rumo a um nível "quatro ou cinco estrelas" no quesito acessibilidade.

(Postado por Alessandra Frederico às 09:14)