segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Sensibilidade tátil nos autistas: quando o toque pesa mais do que parece

Muitas pessoas autistas vivem o mundo com a intensidade dos sentidos “no volume máximo”. Cheiros, sons, luzes e, especialmente, o toque podem ser percebidos de forma muito mais forte do que na maioria das pessoas.

Essa diferença sensorial não é “frescura” nem “manha”: é uma característica neurológica do autismo. O cérebro processa os estímulos de outra maneira, o que pode gerar desconforto, dor, irritação ou, em alguns casos, uma necessidade maior de estímulos táteis.

Quando falamos em sensibilidade tátil, é comum lembrar imediatamente do incômodo com etiquetas de roupas, costuras e tecidos ásperos. De fato, cortar etiquetas é uma das adaptações mais famosas. Mas essa sensibilidade vai muito além disso e se traduz em vários comportamentos do dia a dia.

A seguir, alguns exemplos de consequências práticas da sensibilidade tátil, que podem aparecer em maior ou menor grau.


1. Preferência por certos tipos de tecido e recusa de outros

Muitos autistas desenvolvem uma verdadeira “curadoria” do guarda-roupa:

  • Preferem tecidos macios (como algodão, malha leve, flanela)

  • Rejeitam roupas ásperas, sintéticas, de lã que pinica ou tecidos que “arranham” a pele

  • Podem evitar calças jeans, meias apertadas, golas muito fechadas ou roupas com rendas e aplicações

Isso às vezes é visto como “birra por roupa”, mas na prática é uma tentativa de fugir do desconforto constante que aquele tecido provoca no corpo.


2. Resistência a abraços, beijos e toques inesperados

A sensibilidade tátil não está ligada apenas às roupas, mas também ao contato físico com outras pessoas. Alguns autistas:

  • Evitam abraços apertados ou beijos, mesmo de familiares próximos

  • Se incomodam com toques nas costas, no ombro ou na cabeça, especialmente se forem inesperados

  • Podem se afastar, virar o rosto, enrijecer o corpo ou até reagir com irritação

É muito importante entender que isso não significa falta de amor ou afeto. Muitas vezes, o corpo simplesmente sente aquele contato como invasivo ou doloroso. Respeitar o limite da pessoa é um ato de carinho e inclusão.


3. Dificuldades com sapatos, meias, etiquetas internas e costuras

Além das etiquetas, outras partes da roupa também podem ser um desafio:

  • Meias com costuras na ponta causam enorme incômodo nos dedos

  • Sapatos muito justos, duros ou com textura interna diferente podem ser rejeitados

  • Costuras internas de camisetas, calças ou roupas íntimas podem arranhar ou “esfregar demais” a pele

Por isso, algumas famílias procuram meias sem costura aparente, roupas sem etiquetas internas, calçados mais maleáveis e permitem que a pessoa autista use sempre os mesmos itens “favoritos”, mesmo que isso pareça repetitivo.


4. Evitar atividades que envolvem sujeira, textura ou contato direto

Para algumas pessoas autistas, certas texturas são extremamente desconfortáveis:

  • Areia (praia, parquinho)

  • Grama molhada

  • Lama ou terra

  • Massinhas, slime, tinta de dedo, espuma de barbear

Isso pode fazer com que a criança (ou adulto) evite:

  • Brincar na areia ou no parque

  • Participar de atividades de arte na escola

  • Andar descalça no chão, na grama ou na beira da piscina

Nesses casos, vale negociar adaptações: usar luvas em algumas atividades, começar com contatos rápidos e graduais, permitir que a pessoa observe antes de participar e, principalmente, não forçar.


5. Busca intensa por certos tipos de toque ou pressão

Nem sempre a sensibilidade tátil significa apenas evitar estímulos. Alguns autistas também:

  • Gostam de pressão profunda (abraços apertados, cobertores pesados, ficar debaixo de almofadas)

  • Procuram se enrolar em cobertas ou travesseiros

  • Encostam constantemente em superfícies macias, pelúcias ou tecidos específicos

Esse tipo de comportamento pode ser uma forma de autorregulação sensorial: a pressão constante e previsível traz conforto e segurança para o corpo. Por isso, recursos como cobertores pesados, coletes com peso leve ou almofadas de compressão podem ser usados com orientação profissional.


6. Reações intensas a pequenos incômodos físicos

Um pequeno fio de cabelo preso na pele, um grão de areia dentro do sapato ou um respingo de água em determinada parte do corpo podem ser percebidos como algo enorme. A pessoa:

  • Interrompe o que está fazendo para tentar se livrar da sensação

  • Fica irritada, chora ou se desorganiza emocionalmente por algo que, para os outros, parece “bobagem”

  • Tem dificuldade de se concentrar enquanto aquele incômodo persiste

É essencial que a família e a escola aprendam a levar a queixa a sério. Às vezes, pequenas adaptações resolvem: trocar a roupa, limpar a pele, secar rapidamente, retirar um objeto que está incomodando.


7. Dificuldade com higiene pessoal e cuidados de rotina

Alguns momentos do dia podem ser especialmente desafiadores:

  • Cortar cabelo (toque na cabeça, sensação dos fios caindo, ruído da máquina)

  • Escovar os dentes (sensação da escova na gengiva, textura da pasta)

  • Tomar banho (sensação da água caindo, temperatura, esponja, toalha)

  • Passar creme, protetor solar ou repelente na pele

Essas tarefas podem ser vividas como um “bombardeio de estímulos”. Alternativas:

  • Adaptar o ambiente: água em temperatura agradável, iluminação suave, mais tempo, menos pressa

  • Deixar a pessoa participar das escolhas (tipo de shampoo, textura da toalha, horário mais confortável)

  • Introduzir mudanças aos poucos, explicando o que será feito, para dar previsibilidade


Como podemos ajudar?

Reconhecer a sensibilidade tátil como parte do autismo é o primeiro passo para transformar o julgamento em acolhimento. Algumas atitudes fazem muita diferença:

  • Escutar a pessoa autista: se ela diz que algo incomoda, a sensação é real.

  • Oferecer escolhas: qual roupa, qual tecido, qual sapato é mais confortável?

  • Respeitar limites físicos: não obrigar abraços, beijos ou contatos que causem sofrimento.

  • Buscar acompanhamento profissional quando necessário: terapeutas ocupacionais com experiência em integração sensorial podem ajudar a elaborar estratégias personalizadas.

  • Orientar a escola e familiares: quanto mais gente entender a questão sensorial, menos a pessoa será vista como “difícil” e mais será tratada com respeito.


Conclusão: por trás do toque, existe um mundo de sensações

A sensibilidade tátil nos autistas não é exagero, tampouco falta de educação. É uma maneira diferente de o corpo sentir o mundo. Roupas, abraços, areia, meias, sapatos, cortes de cabelo, escova de dentes… tudo isso, que costuma passar “despercebido” para a maioria, pode ser um desafio diário para quem vive com o volume do tato mais alto.

Ao compreender essas particularidades e criar ambientes mais flexíveis, damos um passo importante para uma inclusão verdadeira: aquela que começa pelo respeito às sensações, aos limites e à forma única de cada pessoa autista estar no mundo.


Texto e imagem produzidos com inteligência artificial.
Autor responsável: José Eduardo Thomé de Saboya Oliveira.


Texto e imagem pro

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