quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Oralismo, Comunicação Total e Educação Bilíngue (Libras–Português): como escolher caminhos que respeitam a pessoa surda

A base de qualquer decisão é simples: garantir acesso, autonomia e identidade. No Brasil, Libras é reconhecida por lei e sua oferta na educação tem regras próprias — isso não é detalhe; é direito linguístico.


Três ideias, em uma frase cada

  • Oralismo: prioriza fala, treino auditivo e leitura labial; historicamente, muitas escolas excluíram a língua de sinais após o Congresso de Milão (1880).
  • Comunicação Total: filosofia multimodal: usa todos os recursos que funcionarem (Libras, fala, escrita, gestos, figuras, tecnologias), sem obrigar falar e sinalizar ao mesmo tempo.
  • Educação Bilíngue (Libras–Português): reconhece Libras como L1 e português (preferencialmente escrito) como L2, com diretrizes específicas no Brasil.

O que muda na prática

Se a escola disser “aqui a gente só treina a fala…”

Você está olhando para uma abordagem oralista. Ela pode ser útil para quem deseja treinar produção de fala e leitura labial, mas não substitui o direito à Libras e a recursos de acessibilidade.

Se a proposta for “cada um usa o que ajuda mais, combinando recursos…”

Isso é Comunicação Total — um guarda-chuva de acessibilidade que acolhe Libras, fala, escrita, legendas e intérprete. O ponto-chave é personalizar, não empilhar tudo ao mesmo tempo.

Se as aulas são em Libras, com português ensinado como L2…

É Educação Bilíngue: docentes fluentes em Libras (preferencialmente pessoas surdas), materiais em Libras e português escrito trabalhado como segunda língua. É a via mais alinhada aos marcos legais atuais.


Forças e limites (do jeito direto)

Oralismo

  • Pode ajudar: treino de fala para quem quer/precisa; leitura labial em situações sem intérprete.
  • Limites frequentes: carga cognitiva alta da leitura labial, perda de informação, risco de apagar Libras e cultura surda quando imposto como único caminho (herança do Milão/1880).

Comunicação Total

  • Pode ajudar: turmas mistas, eventos e serviços em que combinar canais dá mais acesso.
  • Cuidado: não confunda com “falar e sinalizar sempre simultaneamente”. Essa simultaneidade costuma sacrificar a Libras (vira “português sinalizado”, que não é Libras).

Educação Bilíngue (Libras–Português)

  • Pode ajudar: construção de base linguística sólida (L1 visual) e aprendizagem do português como L2 com melhores resultados de leitura e escrita.
  • Exige: equipe formada, materiais e gestão alinhada à legislação (Lei 10.436/2002, Decreto 5.626/2005 e marcos posteriores).

Erros comuns que atrapalham (e como corrigir)

  1. “Se aprender Libras, não vai falar.”
    Correção: uma língua não atrapalha a outra. O ensino bilíngue trabalha L1 e L2 com funções diferentes.

  2. Achar que leitura labial basta.
    Correção: ofereça intérprete de Libras, legendas, materiais visuais e boa iluminação — principalmente em ambientes barulhentos.

  3. Confundir Comunicação Total com “falar+sinalizar sempre”.
    Correção: escolha o melhor canal por situação; evite simultaneidade que deturpa a gramática da Libras.

  4. Tratar português como L1 da pessoa surda por padrão.
    Correção: em bilíngue, Libras é L1 e o português é L2 (ênfase na modalidade escrita).


Checklist rápido para escolas, eventos e serviços

  • Língua de instrução/atendimento: disponibilize Libras (docentes e/ou intérprete) e português escrito acessível.
  • Materiais de apoio: slides com palavras-chave, legendagem quando possível, QR com resumo.
  • Ambiente físico: iluminação frontal para quem usa leitura labial; distância e ângulo de visão adequados.
  • Tecnologia: apps de transcrição ao vivo, vídeo remoto de intérprete, plataformas que suportem Libras.
  • Preferência linguística: pergunte antes. Comunicação Total significa personalizar, não padronizar.

Mini-exercícios para grupos de estudo (estilo Cantinho)

  • Pegue um aviso e produza duas versões: (1) em Libras, (2) em português claro; liste os apoios extras que usaria ao apresentar.
  • Assista a um vídeo com fala+sinais e anote quais sinais foram “comidos” — entenda por que isso não é Libras plena.
  • Em uma reunião, experimente três modos de acesso: intérprete, legendas e resumo escrito. Compare fadiga e compreensão.

Conclusão

Não existe “uma receita” que sirva para todas as pessoas surdas — existe direito linguístico, existe escolha e existem bons recursos. Para aprender, trabalhar e conviver com qualidade no Brasil, o caminho mais sólido é oferecer Libras com protagonismo e português como L2, combinando apoios práticos quando necessário. Isso não exclui treinos de fala para quem desejar; inclui o que realmente dá acesso.


Referências e links (para saber mais)

Texto e imagem produzidos com inteligência artificial. Autor responsável: José Eduardo Thomé de Saboya Oliveira.

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