O projeto, de autoria do senador Romário (PL-RJ), foi relatado na CAS pela senadora Dra. Eudócia (PL-AL) e já havia sido aprovado anteriormente na Comissão de Direitos Humanos (CDH), sob relatoria da senadora Mara Gabrilli (PSD-SP), com importantes alterações no texto original.
Como a votação na CAS foi em caráter terminativo, se não houver recurso para que o texto seja analisado em Plenário, o projeto segue diretamente para a Câmara dos Deputados.
Quem são as mães, pais e responsáveis “atípicos”
O PL 1.179/2024 define como mãe, pai ou responsável legal atípico a pessoa que cuida de filhos ou dependentes com:
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deficiência;
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doenças raras;
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síndrome de Down;
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Transtorno do Espectro Autista (TEA);
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Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH);
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dislexia ou outros transtornos de aprendizagem.
A intenção do texto é tirar essas famílias da invisibilidade, reconhecendo oficialmente que elas enfrentam jornadas exaustivas de cuidados, burocracia, busca por direitos e, muitas vezes, abandono do emprego, da vida social e do próprio autocuidado.
Inicialmente, o projeto previa focar apenas nas “mães atípicas”, mas o parecer da senadora Mara Gabrilli ampliou o alcance para incluir também pais e outros responsáveis, rompendo com a ideia de que o cuidado é uma tarefa exclusivamente feminina.
O que é o programa “Cuidando de Quem Cuida”
Na prática, o programa “Cuidando de Quem Cuida” cria uma política pública estruturada de atenção psicossocial para cuidadores familiares. O objetivo central é melhorar a qualidade de vida dessas pessoas em várias dimensões: emocional, física, social, cultural, familiar e econômica.
Entre as ações previstas estão:
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Atendimento psicológico e terapêutico para mães, pais e responsáveis atípicos, de forma contínua, e não apenas em momentos de crise;
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Serviços assistenciais que ajudem a aliviar a sobrecarga do cuidado diário;
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Atividades de bem-estar e autocuidado para os cuidadores e suas famílias, promovendo descanso, escuta qualificada e suporte emocional;
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Ações complementares de suporte ao filho ou dependente, por exemplo quando o cuidador precisa fazer exames, consultas ou outros atendimentos de saúde;
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Fortalecimento de redes de apoio, com grupos de mães e pais atípicos, rodas de conversa, encontros e debates sobre cuidado e direitos;
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Informação e sensibilização da sociedade, combatendo o preconceito e mostrando que cuidar também é um trabalho que precisa ser valorizado;
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Possibilidade de criação de centros especializados, serviços em domicílio e serviços de acolhimento para essas famílias;
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Estudos e pesquisas para mapear as condições de vida desses cuidadores e orientar novas políticas públicas.
O programa deve dialogar com a rede de atenção primária em saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) e a assistência social, aproximando o tema dos serviços que já atendem as famílias todos os dias.
Apoio desde o pós-parto: acolher desde o começo
Um ponto importante incluído no substitutivo da CDH é o apoio logo após o nascimento da criança. A ideia é que, ainda na maternidade ou nas primeiras consultas, as famílias recebam:
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orientações claras sobre o diagnóstico e as necessidades da criança;
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informações sobre direitos, benefícios e serviços disponíveis;
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acolhimento emocional, para reduzir a culpa, o medo e a sensação de abandono.
Essa abordagem precoce é fundamental para que mães, pais e responsáveis não se sintam “jogados à própria sorte” justamente no momento em que mais precisam de acolhimento.
Por que esse projeto é tão importante para as famílias de pessoas com deficiência
Relatos apresentados no Senado chamam a atenção para um dado duro: o nível de estresse vivido por muitas mães de pessoas com TEA é comparável ao de soldados em combate, tamanha a carga emocional e física diária que elas enfrentam.
Além disso, é comum que:
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a mãe ou o pai deixe o trabalho para se dedicar integralmente ao cuidado;
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a família enfrente filas enormes para conseguir tratamento e terapias;
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haja culpa e autocobrança constantes, somadas ao preconceito e à falta de apoio da sociedade;
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o cuidador adoeça física e emocionalmente, sem ter tempo ou recursos para se cuidar.
Ao reconhecer oficialmente esse cenário e propor uma rede de apoio específica para cuidadores, o programa “Cuidando de Quem Cuida” se soma a outros avanços recentes, como a Política Nacional de Cuidados, voltada a valorizar o trabalho de cuidado — remunerado ou não — no Brasil.
Relação com outras iniciativas e próximos passos
O projeto aprovado no Senado dialoga com estratégias já discutidas em nível nacional e local. Há, por exemplo, proposta semelhante na Câmara dos Deputados (PL 3.124/2023), que também usa o nome “Cuidando de Quem Cuida” para tratar de atenção e orientação às mães atípicas e centros especializados de proteção.
Agora, com a aprovação na Comissão de Assuntos Sociais, o PL 1.179/2024 deve seguir para análise da Câmara dos Deputados, caso não haja recurso para votação em Plenário do Senado. Lá, poderá:
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ser aprovado como está;
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receber ajustes no texto;
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ou ser combinado com outras propostas sobre o mesmo tema.
Depois disso, o programa ainda dependerá de regulamentação e orçamento para sair do papel com força total. Será preciso definir como será o atendimento, quais serviços serão criados, que equipes vão atuar e como será feita a integração com SUS e assistência social.
O que significa, na prática, para quem cuida
Para as famílias de pessoas com deficiência e doenças raras — público do Cantinho dos Amigos Especiais —, o programa “Cuidando de Quem Cuida” representa:
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o reconhecimento formal de que cuidar é trabalho, e trabalho pesado;
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a possibilidade de ter apoio psicológico e social pensado especificamente para mães, pais e responsáveis atípicos;
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um caminho para ampliar a rede de apoio, criar grupos e espaços de escuta em todo o país;
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mais visibilidade para a realidade de quem vive entre terapias, consultas, laudos, brigas por direitos e, muitas vezes, noites mal dormidas.
Ainda há muito por fazer, mas este projeto é um passo importante para que o Estado brasileiro passe a dizer, com ações concretas, aquilo que tantas famílias precisam ouvir na prática: “você não está sozinho (ou sozinha) nessa jornada de cuidado”.
A aprovação do programa “Cuidando de Quem Cuida” é uma notícia que merece ser divulgada, comentada e cobrada — para que não fique apenas no papel.
Seguiremos acompanhando a tramitação na Câmara dos Deputados e trazendo atualizações, sempre com foco em informação acessível, linguagem acolhedora e o compromisso de valorizar quem está na linha de frente do cuidado todos os dias: as famílias.
Fontes oficiais e matérias sobre o tema
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Agência Senado – “Programa de cuidado para pais atípicos é aprovado pela CAS” (12/11/2025).
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2025/11/12/programa-de-cuidado-para-pais-atipicos-e-aprovado-pela-cas -
Agência Senado – “Projeto de apoio a cuidadores de pessoas com deficiência avança no Senado” (14/05/2025).
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2025/05/14/projeto-de-apoio-a-cuidadores-de-pessoas-com-deficiencia-avanca-no-senado -
Rádio Senado – “Comissão aprova projeto voltado ao cuidado de mães, pais e responsáveis atípicos”.
https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2025/05/14/comissao-aprova-projeto-voltado-ao-cuidado-de-maes-pais-e-responsaveis-atipicos -
Inteiro teor do PL 1.179/2024 no Senado Federal.
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/163002 -
Governo Federal – Política Nacional de Cuidados.
https://www.gov.br/mds/pt-br/noticias-e-conteudos/desenvolvimento-social/noticias-desenvolvimento-social/senado-aprova-por-unanimidade-a-politica-nacional-de-cuidados-que-vai-para-sancao-presidencial -
Câmara dos Deputados – PL 3.124/2023 (“Cuidando de Quem Cuida”).
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2369957
Perfis de redes sociais dos envolvidos
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Senado Federal – Instagram
https://www.instagram.com/senadofederal/ -
Senador Romário (autor do PL 1.179/2024) – Instagram
https://www.instagram.com/romariofaria/ -
Senadora Dra. Eudócia (relatora na CAS) – Instagram
https://www.instagram.com/eudociasenadora/ -
Senadora Mara Gabrilli (relatora na CDH) – Instagram
https://www.instagram.com/maragabrilli/ -
Post do Senado sobre a aprovação na CAS – Instagram
https://www.instagram.com/p/DQ_oOp-FNVI/ -
Post da senadora Mara Gabrilli com mães atípicas, celebrando o projeto – Instagram
https://www.instagram.com/p/DQ95pXjE55T/





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