terça-feira, 15 de março de 2016

Bicampeão paraolímpico luta contra doença para defender título no Rio

DE SÃO PAULO
14/03/2016  02h00

Dirceu Pinto, bicampeão paraolímpico na bocha. Foto: Marcus Leoni - 07.mar.2016/FolhapressBicampeão paraolímpico na bocha em duas modalidades, individual e em duplas, e um dos principais nomes do paradesporto brasileiro, Dirceu Pinto, 35, não titubeia em dizer que vai "conquistar na raça" mais um ouro, no Rio, daqui a seis meses.

O desafio do paraatleta, porém, passa pelo enfrentamento de sua própria situação física. Vítima de uma doença degenerativa e progressiva, ele perdeu parte da força de seus arremessos nos últimos meses, caiu no ranking mundial e teve de diminuir o ritmo de dedicação.

Aliado a isso, Dirceu vai competir com jogadores asiáticos mais ágeis e que progrediram no esporte, abocanhando títulos e posições entre os melhores do planeta.

Mas as questões lógicas parecem não abalar Dirceu, atual sétimo melhor do mundo na bocha, que tem quatro classes e é jogada por pessoas com deficiências severas ou com paralisia cerebral.

"Fiquei quatro noites sem dormir durante a Paraolímpíada de Londres [2012] de tanta tensão. Mas entrava na quadra, me transformava e ganhava. Tenho tido muitas derrotas de lá para cá. O foco saiu de mim e é um momento diferente. Mas vou fazer de tudo para ser tricampeão, não para mim, mas pelas pessoas com deficiência", diz.

Atualmente, além de esportista, Dirceu é coordenador paradesportivo da Prefeitura de Mogi das Cruzes (cidade da Grande São Paulo), onde comanda um programa de inclusão.

"Precisamos dar um amparo maior para quem tem deficiência grave no Brasil. São pessoas que passam por muitas dificuldades e privações. O esporte ajuda na melhoria da vida delas e no entendimento de suas condições. Minha sede por mais um ouro é para abrir ainda mais portas para ajudar essas pessoas."

FÉ E VIBRAÇÃO

Mas para buscar um resultado de campeão, o paraatleta não está apostando apenas em fichas subjetivas, como em sua "fé" ("se puder, por favor, escreva que Deus me ajuda muito"), no temor dos adversários a seus títulos e no poder de vibração da torcida brasileira, em casa.

Com um staff de cinco pessoas –de personal trainer a uma psicóloga–, Dirceu está mudando os hábitos alimentares, criou uma rotina de fisioterapias e está intensificando os treinamentos na reta final para os jogos.

"A distrofia desgasta a musculatura, mas estou bem e treinando. Quem olha de fora acha que estou debilitado, mas na quadra mostro que ainda posso dar bons resultados. Já descuidei muito da minha saúde no passado, mas agora tenho um grupo multidisciplinar me ajudando. Tenho muita experiência. Aposentadoria só em 2020."

Na Paraolimpíada de Pequim, em 2008, Dirceu era o 25º melhor jogador do mundo e ficou com o título.

"É bom que achem que não posso mais ganhar. Isso tira um pouco da pressão sobre mim. Mas o ouro virá."

Raio-x

Dirceu José Pinto
Nascimento 18.set.1980 (35 anos), em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo

Títulos
Bicampeão paraolímpico de bocha na classe BC4

Doença
Distrofia muscular de cintura (degenerativa e progressiva)

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