Ele começa a existir quando surgem as árvores enfeitadas nas vitrines, as guirlandas penduradas nas portas, as luzes piscando nas fachadas, os laços vermelhos disputando atenção e um certo excesso de brilho que parece anunciar, com urgência: “É Natal!”. Há quem diga que só sente o Natal quando vê a cidade iluminada, quando passa por um shopping decorado ou quando fotografa uma árvore perfeitamente montada para postar nas redes sociais.
Mas para quem não vê — ou vê pouco — tudo isso é quase irrelevante.
Não porque não seja bonito, mas porque simplesmente não chega. As luzes não piscam para quem não as percebe. As cores não emocionam quem não as distingue. A árvore “linda”, descrita com empolgação, vira apenas um objeto silencioso ocupando espaço. O Natal visual, tão exaltado, passa ao largo de quem não o enxerga.
E então surge um estranhamento inevitável: se o Natal depende tanto do que se vê, o que sobra para quem não vê?
Sobra o som. O cheiro. O toque.
O Natal que se anuncia no barulho diferente da casa, no entra e sai de pessoas, na música que toca mais alto, nos passos apressados. O Natal que chega pelo cheiro da comida sendo preparada, pelo aroma conhecido que desperta memórias, pela mesa que se monta mais cedo do que o normal. O Natal que se revela no toque de um abraço mais demorado, na mão que procura outra com mais cuidado, na voz que chama pelo nome com mais ternura.
Para a pessoa com deficiência visual, o Natal não é um espetáculo: é uma atmosfera.
Ele não está nas vitrines, mas nas conversas. Não está nas luzes, mas nas intenções. Não está nos enfeites, mas na forma como as pessoas se aproximam — ou se afastam.
Talvez por isso doa um pouco perceber que o essencial também vai ficando de fora. Fala-se muito de Papai Noel, de presentes, de decoração, de consumo, de imagens “perfeitas”. Fala-se tanto do cenário que o sentido se dilui. E, curiosamente, quanto mais se enfeita o Natal, mais ele parece perder profundidade — especialmente para quem nunca precisou dos olhos para sentir o mundo.
No fundo, para quem não vê, o Natal só faz sentido quando deixa de ser vitrine e volta a ser encontro. Quando deixa de ser luz e volta a ser calor. Quando deixa de ser aparência e volta a ser presença.
E talvez seja justamente por isso que, no silêncio do coração, longe das árvores brilhantes e das guirlandas impecáveis, seja possível lembrar que o Natal não é sobre o que se enfeita, mas sobre Quem se celebra: Jesus Cristo. Aquele que não precisa ser visto para ser reconhecido, não depende de luzes para iluminar e não se impõe pelos olhos, mas se revela no amor, no acolhimento e na presença sincera entre as pessoas.

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