quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Infantilização e Supervalorização: Quando o Cuidado se Torna Capacitista

A luta pela inclusão de pessoas com deficiência avança a cada dia, mas ainda enfrentamos barreiras que não são físicas, nem arquitetônicas: são barreiras de atitude. Entre elas, duas se destacam por serem muito presentes nas relações familiares, sociais e até institucionais: a infantilização e a supervalorização.

Essas práticas, muitas vezes camufladas como “cuidado” ou “proteção”, podem parecer gentis por fora, mas carregam em seu núcleo uma visão distorcida sobre quem é a pessoa com deficiência e qual é o seu lugar no mundo.

Neste artigo, queremos lançar luz sobre esse tema, trazendo reflexões que ajudem famílias, cuidadores, educadores e a sociedade a construir relações mais justas, maduras e realmente inclusivas.


1. Infantilização: quando o olhar reduz a pessoa

Infantilizar é tratar um adulto como se fosse uma criança.
Isso acontece quando alguém usa diminutivos, fala com voz infantilizada, impede que a pessoa faça escolhas simples ou assume tarefas que ela pode desempenhar com autonomia.

A infantilização transmite a mensagem de que a PCD não é capaz, não sabe pensar por si e não deve decidir sua própria vida. Esse comportamento não apenas fere a autoestima, como impacta o desenvolvimento da autonomia, da identidade e até da saúde emocional.


2. Supervalorização: o pedestal que também aprisiona

Se de um lado existe o tratamento infantilizado, do outro há a supervalorização: colocar a pessoa com deficiência em um pedestal, enxergando-a como “herói”, “exemplo de vida”, “inspiração ambulante”.

Esse tipo de olhar também é capacitista, porque desumaniza e padroniza. Transforma a vida da pessoa em espetáculo e esconde suas vulnerabilidades, suas necessidades reais e sua humanidade.

Ninguém precisa ser inspiração o tempo todo.
Ninguém deve ser comparado ou usado como exemplo para validar a superação de outros.


3. A falsa ideia de proteção

Muitos desses comportamentos surgem da vontade de proteger. Entretanto, proteção verdadeira não é sinônimo de controle, nem de exagero.

Proteger é garantir acessibilidade, informação, oportunidades, tratamento digno e respeito à autonomia.
Proteger não é silenciar, impedir, decidir pelo outro ou colocá-lo em posição inferior ou superior.

A fronteira entre cuidado e capacitismo é sutil, mas existe — e precisa ser observada com carinho e consciência.


4. O impacto emocional das atitudes capacitistas

A infantilização e a supervalorização deixam marcas profundas:

  • bloqueiam o desenvolvimento da autoconfiança;
  • geram dependência emocional e prática;
  • provocam sensação de invisibilidade ou inadequação;
  • criam relações de poder que dificultam o diálogo e o crescimento.

Quando tratamos alguém como “eterno pequeno” ou como “eterno herói”, estamos tirando aquilo que todos buscamos: o direito de sermos pessoas inteiras, com força e fragilidade, com potencial e limites, com escolhas e responsabilidades.


5. Caminhos para relações mais adultas, dignas e inclusivas

A mudança começa em atitudes simples:

  • Perguntar antes de ajudar.
  • Perguntar como ajudar.
  • Usar linguagem adequada à idade da pessoa.
  • Reconhecer capacidades reais, sem exageros.
  • Respeitar o tempo, os limites e os desejos individuais.
  • Entender que deficiência não define maturidade, caráter, inteligência ou valor.

Construir uma sociedade inclusiva é enxergar a pessoa com deficiência como sujeito de direitos, não como eternos dependentes ou super-heróis.


Conclusão: Inclusão se faz com respeito, não com rótulos

Infantilizar ou supervalorizar não é afeto — é capacitismo.
E capacitismo fere, mesmo quando vem embrulhado em boas intenções.

Aqui no Cantinho dos Amigos Especiais, acreditamos em relações que acolhem sem aprisionar, que apoiam sem limitar, que amam sem reduzir.

A verdadeira inclusão nasce quando olhamos o outro como igual em dignidade, adulto em identidade e livre para ser quem é — com ou sem deficiência.

Fontes:

  • Organização Mundial da Saúde – Documentos sobre autonomia e deficiência
  • Lei Brasileira de Inclusão (LBI – Lei nº 13.146/2015)
  • Conteúdos autorais e reflexões do projeto Cantinho dos Amigos Especiais

Texto e imagem produzidos com inteligência artificial.
Autor responsável: José Eduardo Thomé de Saboya Oliveira.

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