O ceratocone é uma condição em que a córnea (a parte transparente na frente do olho) vai ficando mais fina e assumindo uma curvatura irregular, podendo formar um aspecto “em cone”. Essa mudança faz com que a luz não seja focalizada corretamente e a pessoa passe a enxergar com distorção, como se a imagem estivesse “tremida”, “fantasmada” ou borrada.
Por que o ceratocone atrapalha tanto?
Porque ele costuma causar astigmatismo irregular. Em outras palavras: não é apenas um “grau alto” que o óculos corrige facilmente. Em muitos casos, o óculos melhora um pouco, mas não resolve totalmente a deformação da imagem.
E há um ponto importante: o ceratocone pode progredir. Por isso, diagnóstico precoce e acompanhamento fazem muita diferença.
Sintomas que podem indicar ceratocone
Nem todo sintoma significa ceratocone, mas estes sinais merecem atenção — especialmente quando aparecem juntos:
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Visão embaçada ou distorcida, com sensação de “imagem torta”
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Aumento frequente do grau (trocas de óculos em intervalos curtos)
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Astigmatismo que muda muito de um exame para outro
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Visão dupla/“fantasma” (principalmente em um olho)
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Dificuldade maior à noite, com halos e brilho em volta das luzes
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Sensibilidade à luz (fotofobia)
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Coceira nos olhos (muito comum em quem tem alergias) e hábito de esfregar os olhos
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Dificuldade para ler letras pequenas mesmo com óculos “novo”
Se você já ouviu frases como “seu astigmatismo está muito irregular” ou “seu exame não bate com a sua queixa”, vale investigar.
Como é feito o diagnóstico?
O oftalmologista pode suspeitar no exame clínico, mas geralmente confirma e acompanha a doença com exames que “mapeiam” a córnea, como:
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Topografia corneana (mapeia a curvatura)
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Tomografia/paquimetria (avalia espessura e estrutura)
Esses exames ajudam a entender o estágio, a evolução ao longo do tempo e a melhor estratégia de tratamento.
Tratamento e cuidados: o que costuma ser indicado
O tratamento depende do caso, do estágio e, principalmente, se há progressão. Em geral, as opções incluem:
1) Óculos (nos casos iniciais)
Podem ajudar, mas nem sempre corrigem toda a distorção.
2) Lentes de contato especiais
Muitas pessoas com ceratocone conseguem grande melhora com lentes apropriadas, como rígidas gás-permeáveis, híbridas ou esclerais (estas costumam ser mais confortáveis em vários casos, por apoiarem em outra região e “regularizarem” a superfície óptica).
3) Crosslinking corneano
É um procedimento cujo objetivo principal é frear/estabilizar a progressão (não é “cirurgia para tirar grau”). Quando bem indicado, pode ser decisivo para evitar piora futura.
4) Implantes de anel intracorneano
Em casos selecionados, pode ajudar a regularizar a curvatura e melhorar a qualidade visual (muitas vezes para facilitar o uso de óculos/lentes), mas não substitui o acompanhamento e não é “cura”.
5) Transplante de córnea
É reservado para situações em que outras alternativas não funcionam ou quando há comprometimento importante da córnea. Hoje existem técnicas com recuperação e resultados melhores do que no passado, mas a indicação é sempre individual.
Cuidados no dia a dia que fazem diferença
Alguns cuidados simples podem ajudar a proteger a córnea e evitar piora:
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Não esfregue os olhos. Se há coceira, trate a causa (alergia, olho seco).
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Controle de alergias (rinite/conjuntivite alérgica) com orientação médica.
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Use lubrificantes oculares se o oftalmologista indicar.
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Faça acompanhamento periódico, mesmo quando “parece estar tudo igual”.
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Se usa lentes: siga rigorosamente higiene, tempo de uso e revisões da adaptação.
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Proteja-se do excesso de luz com óculos de sol de boa qualidade (se for confortável para você).
Quando procurar ajuda com urgência?
Procure atendimento oftalmológico o quanto antes se houver:
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Dor forte no olho
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Vermelhidão intensa com piora rápida da visão
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Sensação de “névoa” súbita ou queda abrupta da visão
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Intolerância repentina a lentes que antes eram confortáveis
Um recado para o nosso Cantinho
O ceratocone pode assustar no começo, mas a boa notícia é: há caminhos — e o principal deles é não deixar para depois. Com exames adequados, acompanhamento e a estratégia certa (óculos, lentes, procedimentos para estabilização), muita gente mantém autonomia, estudo, trabalho e qualidade de vida.
Se este texto ajudou você, compartilhe com alguém que vive “trocando de óculos” e ainda não entendeu o porquê. Informação, aqui, também é acessibilidade.
Referências
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Revisão sobre diagnóstico/manifestação do ceratocone (SciELO). SciELO Brasil
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Crosslinking para ceratocone (relatório técnico – CONITEC/Ministério da Saúde). antigo-conitec.saude.gov.br
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Crosslinking: objetivo de interromper a progressão (artigo na Revista Brasileira de Oftalmologia – SciELO). SciELO Brasil
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Importância de não coçar os olhos no ceratocone (Drauzio Varella). Drauzio Varella
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Relação entre alergia ocular/fricção e ectasia/ceratocone (ASBAI/AAAAI). ABRIA

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