Quase 46 milhões de brasileiros têm alguma deficiência física. Por aqui, a vida deles pode ser cheia de obstáculos, mas, em alguns países, as cidades estão cada vez mais acessíveis.
Quantas vezes você viu um cadeirante circulando pelas ruas brasileiras sozinho, sem precisar da ajuda de ninguém? Totalmente independente? E quantas vezes você entrou em um restaurante, e foi atendido por um garçom surdo e mudo?
Quanto mais um país é desenvolvido, mais condições ele oferece para uma pessoa com deficiência levar uma vida normal. E é por isso que nos Estados Unidos, em países da Europa e também no Canadá, é muito mais comum ver pelas ruas pessoas com necessidades especiais do que no Brasil.
É a situação de três brasileiras: Regina é arquiteta, Michele é estilista, e Mila, publicitária.
Michele Simões: Nas ruas do Brasil, pelo menos de São Paulo, eu não consigo andar sozinha.
Fantástico: Nunca?
Michele Simões: Não.
Fantástico: Nunca?
Michele Simões: Não.
Mila Guedes: No Brasil as calçadas são cheias de buracos, são irregulares, tem degraus. É impossível eu andar. Lá, eu sempre dependo de outras pessoas para me conduzir.
Regina Cohen: Eu gosto à beça de fazer compras no supermercado, de ir na farmácia, de olhar as coisas. Todas as lojas têm degrau.
Mila Guedes: E o provador? É impossível! Aqui você tem provador para quem tem deficiência.
Regina Cohen: Eu gosto à beça de fazer compras no supermercado, de ir na farmácia, de olhar as coisas. Todas as lojas têm degrau.
Mila Guedes: E o provador? É impossível! Aqui você tem provador para quem tem deficiência.
Vítimas da falta de acessibilidade nas cidades brasileiras, Mila e Michele saíram do Brasil para experimentar um pouco da vida onde os deficientes são mais respeitados. Elas são blogueiras, e querem passar a experiência para frente. Incentivar outros cadeirantes a viajar.
“Para a minha surpresa muitos deficientes querem viajar, e muitos deficientes têm os mesmos medos que eu tinha, as mesmas dúvidas”, conta Michele. Esta é a primeira vez que ela viaja sozinha, sem companhia de ninguém. Só ela e sua cadeira. Foi para Montreal, no Canadá. Hospedou-se em um apartamento com portas e banheiro acessíveis para cadeirantes e experimentou uma liberdade única na sua vida. “Se o lugar não é deficiente, eu não me sinto deficiente”, explica.
Pequenos detalhes, grandes diferenças. “Existe o botãozinho mágico. Você tá no banco, você aperta e a porta já abre, e você consegue entrar, e não fica passando aperto para conseguir abrir ou fechar a porta”, diz Michele. E o botão ‘mágico’, está na porta de escolas, shoppings e edifícios.
Fantástico: Se você estivesse no Brasil, como seria?
Michele: Eu tenho ou que usar a própria cadeira, eu vou empurrando a porta.
Fantástico: Mas bate na sua perna?
Michele: Bate, não tem jeito. Ou pedir ajuda para alguém, né. A melhor parte é quando você não precisa pedir ajuda, porque aí você volta a se sentir segura. Nossa, eu posso ir para qualquer lugar.
Michele: Eu tenho ou que usar a própria cadeira, eu vou empurrando a porta.
Fantástico: Mas bate na sua perna?
Michele: Bate, não tem jeito. Ou pedir ajuda para alguém, né. A melhor parte é quando você não precisa pedir ajuda, porque aí você volta a se sentir segura. Nossa, eu posso ir para qualquer lugar.
Se na entrada do prédio tem escadas, ao lado tem um elevador para cadeirantes. E, nas esquinas, as calçadas são rebaixadas para dar acesso a qualquer tipo de cadeiras de rodas. Em Montreal, Michele pode fazer passeios de turista. Ir a um museu, por exemplo. Coisas a que um cadeirante nem sempre tem acesso no Brasil.
A arquiteta Regina veio participar de um congresso mundial sobre turismo acessível. Apresentou um projeto interessante: a praia para cadeirantes. Um espaço criado para a cadeira andar sobre a areia. E criticou a falta de acesso aos pontos turísticos do país, no ano que antecede os jogos paralímpicos de 2016. “Cristo redentor, ponto turístico importante da cidade do Rio de Janeiro. Por que colocaram uma escada rolante, que custou caríssimo? Porque não colocaram um elevador? Escada rolante para cadeira de rodas não é bom. A cidade tem que ser universal, para todos”, afirma.
Você entra em um restaurante e os garçons se comunicam com os clientes na linguagem dos sinais: são todos surdos e mudos. No cardápio, os clientes aprendem os sinais para pedir os seus pratos. Depois de dar uma rápida estudada, resolvemos tentar.
Renata Ceribelli: “Eu quero uma salada verde, com frango, ok?”. Eu confesso que eu fico envergonhada de saber tão pouco sobre a linguagem dos sinais, mas a ideia do restaurante é justamente essa: você vir até aqui, e aprender a se comunicar com eles.
A condição deles não parece ser uma barreira. Pelo contrário. O restaurante está cheio. “É excelente, interativo, uma experiência fenomenal”, elogia um cliente.
Perguntamos para um outro cliente se ele vai se comunicar mais facilmente com surdos e mudos depois dessa experiência. “Sim”, ele responde na linguagem de sinais.
“Tenho amigos que são surdos e eu nunca tentava falar com eles em sinal, eu sempre mandava mensagem escrita no celular e era assim que a gente conversava. Acho que agora quando eu encontrar com eles, vou pelo menos tentar falar por sinal. Ter menos vergonha de tentar”, comenta um brasileiro, também cliente do restaurante.
Fonte: Fantástico - 11-01-2015.
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