VERA perdeu o braço aos 11 anos de idade. Hoje, mantém um dos mais importantes blogs sobre pessoas com deficiência do Brasil.
Entrevista concedida a :"Flávio Peralta" , do Blog AMPUTADOS VENCEDORES, a quem agradecemos pela gentileza de nos autorizar a reproduzi-la aqui.
No que consiste a sua deficiência (fale um pouco sobre o que aconteceu)?
Sou amputada do membro superior direito. Sofri um acidente dentro da minha própria casa aos onze anos de idade. Parece incrível, mas é verdade. Estava brincando de pular corda com meu irmão, quando a marquise de casa desabou em cima de mim. Fui muito atingida no braço direito e perna direita. O médico disse a minha mãe que a chance de sobrevivência era mínima, pois eu havia perdido muito sangue. Foram quatro horas de cirurgia e graças a Deus consegui sobreviver.Fiquei internada durante três meses e infelizmente devido a gangrena meu braço teve que ser amputado.
Quando a pessoa adquire a deficiência em algum momento de sua vida é preciso reaprender muitas coisas para se adaptar à nova realidade. Em seu caso, qual foi a adaptação que você considera que foi a mais difícil para você? Pode narrar fatos se quiser.
Com a ausência do meu braço direito, precisei reaprender a realizar minhas tarefas rotineiras. Como era destra, após o acidente me tornei canhota. Considero esse processo de transição de destra para canhota como a adaptação mais difícil.
Na sua vida profissional e amorosa você enfrentou muitas dificuldades? Cite situações relacionadas à profissão ou ao amor que aconteceram contigo.
Sempre agradeço a Deus por não ter passado por situações humilhantes em relação a minha deficiência.
Aos 17 anos de idade, quando comecei a namorar, descobri que podia ser desejada mesmo sendo amputada. A sensualidade e o desejo estão em nossa mente e não na nossa deficiência.
No que diz respeito a minha vida profissional, também não tive problemas. É claro que na maioria das vezes o preconceito é velado, mas quando percebia isso, simplesmente ignorava. Talvez seja porque sempre estive muito envolvida com o trabalho.
Após esse período de adaptação você deve ter enfrentado muitas situações complicadas, fáceis, difíceis e engraçadas. Tem algum fato ou um acontecimento que tenha te marcado após sua recuperação e que tenha a ver com sua deficiência?
A sensação do membro fantasma é marcante para os amputados, e para mim não foi diferente. Podia sentir o meu braço direito. Era como se ele estivesse ali, e ainda fizesse parte do meu corpo. A sensação era tão real e forte que ao lidar com os afazeres domésticos, como por exemplo, lavar louça, acreditava que estava usando as duas mãos. Essa situação também aconteceu ao varrer a casa, limpar os móveis, enxugar a louça, atender ao telefone, etc. Foram várias situações estranhas e ao mesmo tempo engraçadas.
Tem algum aspecto em especial na sua vida hoje que você percebe muitas mudanças e que você valoriza muito mais do que antes?
Sofri um acidente aos 11 anos de idade e poderia ter morrido. Valorizo muito por estar viva. A vida é o que temos de mais precioso. Viver para mim é algo extraordinário. Pode existir algo melhor do que poder acordar pela manhã e ver o sol brilhando? Na minha opinião não existe.
Quais foram as pessoas que mais te ajudaram e o que você gostaria de falar para elas?
Tantas pessoas me ajudaram. Sou grata a todas elas. No entanto minha mãe foi o anjo que Deus enviou para me proteger. Ela é uma mãe extremamente valente, dedicada, amiga e zelosa. Tenho um grande amor por minha mãe e ela por mim. Amo toda minha família, mas minha mãe é um amor muito especial.
Qual a mensagem que você gostaria de deixar sobre a questão da deficiência?
Sei o quanto tudo é difícil, mas não podemos desistir, não podemos nos abater. Somos como qualquer outra pessoa, pois estudamos, trabalhamos, namoramos, pagamos impostos... É preciso aceitar os desafios e enfrentar as situações adversas e imprevisíveis da vida com coragem e determinação. Procure viver do presente e não do passado. Acredite na sua capacidade e competência e finalmente, vá em busca dos seus sonhos e realize-os, nunca é tarde demais para realizar um sonho.
Você quer fazer qualquer outro comentário sobre o assunto? Fique à vontade.
Gostaria de deixar um recado aos familiares de pessoas com deficiência: o carinho, o incentivo e o elogio sincero, foram fundamentais para a minha readaptação e para a nova fase da minha vida. Esses incentivos fizeram com que eu tivesse ânimo para superar a minha nova condição e resgatar a minha autoestima. Cada vez que eu ouvia uma palavra de encorajamento ou um elogio, surgia em mim uma vontade imensa de superar minhas dificuldades e até o tamanho dos meus problemas diminuíam.
Nunca esqueça que essa pessoa que se tornou ou nasceu com alguma deficiência, precisará muito do seu carinho e de incentivo.
Quando criei o blog Deficiente Ciente não imaginava as inúmeras surpresas agradáveis que teria. Sempre tive vontade de fazer algo que pudesse ajudar outras pessoas com deficiência, e agora, estou realizando o meu desejo.
Nos dias atuais, percebe-se que as informações sobre os direitos, acessibilidade e educação das pessoas com deficiência ainda são muito restritas. Atualmente, na televisão, essa questão está ganhando um pouco mais de espaço. Porém na rádio e jornal impresso são poucas informações.
Com a vinda da internet, percebemos que as informações estão chegando cada vez mais de forma rápida e dinâmica, além de gerar uma grande interatividade e possibilidade de uma maior participação das pessoas com deficiência. Com isso, a criação de sites e blogs voltados para as questões sociais, transformou-se numa ferramenta da democratização de informações e vai gradualmente abrindo os olhos da sociedade para a questão da deficiência.
Com essa preocupação, o blog Deficiente Ciente foi criado. Queria de alguma forma, ajudar na facilitação da democratização de informações e ao mesmo tempo lutar por uma inclusão de qualidade. Um outro ponto também muito pertinente e que me preocupava, era sensibilizar e conscientizar as pessoas não-deficientes para essa questão. Queria de alguma forma mostrar através de vários exemplos positivos , que é possível ser feliz, mesmo sendo portador de alguma deficiência. Penso que as pessoas não-deficientes precisam olhar a pessoa com deficiência sob o ângulo da sua eficiência, capacidades e habilidades e não enxergar a deficiência como uma doença crônica, um peso ou um problema. Acredito que quanto maior o número de pessoas informadas, menor será o número de pessoas que desrespeitam e discriminam.
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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
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Um comentário:
Obrigado por darem destaque a esta pessoa fantástica que é a Vera!
Ela é um exemplo de coragem, persistência, luta, dignidade e amizade!
Força Vera!
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