segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Quando a fé precisa ser vista: acessibilidade para surdos nos templos religiosos

Seja qual for a crença – igreja, templo, centro, sinagoga, terreiro, casa espírita, salão do reino ou qualquer outro espaço de fé –, uma verdade deveria ser comum a todos: ninguém pode ficar de fora porque não ouve.

Em uma sociedade que ainda luta para garantir direitos básicos às pessoas com deficiência, a pessoa surda costuma ser convidada a “participar pela metade”: está presente fisicamente, mas não compreende a maior parte do que é dito. Isso não é falta de interesse. É falta de acessibilidade.

Surdez não é desinteresse: é barreira de comunicação

Muitas vezes, quem ouve interpreta mal o comportamento da pessoa surda durante uma celebração:

  • “Ela não presta atenção.”

  • “Não se emociona.”

  • “Não participa das orações.”

Na realidade, o que acontece é que, sem recursos de comunicação, a pessoa surda é colocada numa espécie de jejum forçado da Palavra – seja ela chamada de Evangelho, Escrituras, Doutrina, Mensagem ou Tradição.

Alguns pontos importantes:

  • A comunidade surda tem uma língua própria, como a Libras no Brasil.

  • A leitura labial é limitada, cansativa e nem sempre funciona.

  • A comunicação escrita ajuda, mas não substitui a língua de sinais para quem tem essa língua como principal.

Quando um templo não se organiza para acolher essa realidade, a mensagem até pode ser bonita – mas não chega a todos.

Acessibilidade é cuidado espiritual e compromisso com direitos

No Cantinho dos Amigos Especiais, sempre lembramos: inclusão não é gesto de caridade, é questão de direitos. E, no ambiente religioso, esse direito se soma a algo ainda mais profundo: o direito de viver plenamente sua fé.

Ao tornar o espaço acessível para surdos, a comunidade religiosa:

  • pratica o amor ao próximo, indo além do discurso;

  • promove justiça e equidade, garantindo o mesmo acesso à mensagem espiritual;

  • constrói uma comunhão verdadeira, na qual todos participam, e não apenas assistem.

Mais do que cumprir leis, isso é coerência: se Deus (ou o Sagrado, como cada tradição entende) ama a todos, a comunidade que fala em nome desse Amor precisa ser compreensível a todos.

Passos concretos para tornar o templo mais acessível

Nem toda comunidade tem muitos recursos, mas todas podem começar de algum ponto. Eis algumas possibilidades:

1. Intérprete de língua de sinais

Sempre que possível, contar com intérprete de Libras (ou da língua de sinais local) em:

  • cultos, missas, sessões e celebrações;

  • estudos, aulas, catequeses, cursos doutrinários;

  • eventos especiais (casamentos, batismos, iniciações, cerimônias coletivas);

  • encontros de jovens, crianças e famílias.

Quando ainda não há intérprete:

  • incentivar pessoas da própria comunidade a estudarem Libras;

  • buscar parcerias com associações de surdos e instituições especializadas;

  • organizar escalas para que ninguém fique sobrecarregado.

2. Legendas, projeções e materiais visuais

Nem toda pessoa surda usa Libras como língua principal; algumas se comunicam melhor pela escrita. Por isso, valem muito:

  • legendas em vídeos exibidos nos encontros ou publicados nas redes sociais;

  • projeção das letras de cânticos, preces e textos em telões ou monitores;

  • resumos escritos das mensagens, disponíveis em material impresso ou digital;

  • uso de slides, imagens e esquemas que acompanhem a fala.

Isso ajuda não só surdos, mas também idosos, pessoas com deficiência intelectual, TDAH, dislexia e quem tem mais facilidade com recursos visuais.

3. Sinalização e avisos acessíveis

A pessoa surda não enfrenta barreiras apenas na parte “espiritual” do encontro. As dificuldades aparecem também nas questões práticas:

  • falta de sinalização clara de espaços (banheiros, secretaria, salas);

  • avisos importantes feitos somente “no microfone”;

  • mudanças de horário e recados divulgados apenas de forma oral.

Soluções simples:

  • placas e cartazes bem visíveis;

  • avisos importantes impressos, em grupos de mensagens ou quadros informativos;

  • painéis ou telas com orientações em eventos maiores.

4. Formação da comunidade

A acessibilidade não pode ficar “nas costas” só do intérprete ou da família da pessoa surda. A comunidade toda precisa se envolver:

  • falar sobre deficiência, capacitismo e acessibilidade nas reuniões internas;

  • estimular que todos aprendam ao menos alguns sinais básicos (bom dia, paz, obrigado, tudo bem?);

  • orientar para que, ao conversar com pessoa surda, a gente olhe no rosto, fale devagar, use gestos e, se necessário, o celular para escrever;

  • evitar infantilizar, gritar, falar como se fosse uma criança ou agir com pena.

A mensagem que precisa ser passada é simples:
a pessoa surda é parte da comunidade, não um “enfeite” sentado no banco.

5. Ouvir a própria comunidade surda

Nada sobre nós, sem nós. Esse lema do movimento das pessoas com deficiência vale aqui também.

Perguntar faz toda a diferença:

  • O que ajuda mais? Intérprete? Material escrito? Sinais visuais?

  • Em quais momentos do culto ou reunião a pessoa se sente mais excluída?

  • Que mudanças simples já fariam enorme diferença?

Cada pessoa tem uma vivência. Ouvir quem está na pele da situação é o caminho mais respeitoso e eficiente.

Quando a inclusão melhora a experiência de todos

Uma descoberta bonita é que, quando o templo se torna mais acessível à comunidade surda, toda a comunicação melhora:

  • mensagens ficam mais claras e organizadas;

  • cânticos e orações ganham projeção de letras, ajudando quem não conhece de cor;

  • recursos visuais facilitam a vida de crianças, idosos e pessoas com dificuldades de atenção.

Ao incluir a pessoa surda, a comunidade está, na verdade, cuidando melhor de todo mundo.

Um chamado a todas as crenças

O Cantinho dos Amigos Especiais fala com pessoas de várias tradições religiosas – e também com quem não segue religião específica, mas se preocupa com a dignidade humana. Em todos esses caminhos, há uma ideia em comum: ninguém deve ser descartado.

Acessibilidade para surdos nos templos religiosos é um desses pontos em que as crenças se encontram. Ela afirma, na prática:

Aqui, sua presença importa. Sua fé importa.
Seu direito de compreender também.

Talvez a pergunta que cada comunidade possa se fazer seja:

  • O que já fazemos hoje para incluir pessoas surdas?

  • Que pequenos passos podemos dar a partir de agora?

  • Com quem podemos aprender para avançar mais?

Quando um templo decide se tornar realmente acessível, ele não está apenas “modernizando o culto”. Está confirmando, em gestos concretos, aquilo que muitos pregam em palavras: o Amor – com A maiúsculo – é para todos, inclusive para quem precisa que a fé também seja vista, não só ouvida.


Texto e imagem produzidos com inteligência artificial.
Autor responsável: José Eduardo Thomé de Sablya Oliveira.

Nenhum comentário: