Não é “coitadinha” nem “super-heroína”: é criança
Muitas vezes, a criança com deficiência é vista em dois extremos:
ou como alguém “incapaz, frágil, coitadinha”,
ou como um “exemplo de superação”, “guerreirinha” o tempo todo.
Nenhum dos dois lados respeita quem ela é de verdade.
A criança com deficiência:
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sente medo, cansaço, raiva, alegria, como qualquer outra;
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não é obrigada a ser forte o tempo todo;
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não é um “anjo” nem “castigo”, é uma pessoa em desenvolvimento, com necessidades reais e direitos garantidos em lei.
Olhar para ela como criança, antes de tudo, é o primeiro passo para combater o capacitismo – aquele jeito de tratar a pessoa com deficiência como menos capaz ou diferente demais para conviver em igualdade.
Direitos que não podem ser “favor”
O Dia da Criança com Deficiência também nos lembra que inclusão não é gentileza, é obrigação.
Alguns direitos básicos que ainda são tratados como “favor”:
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Educação inclusiva: escola acessível, professor preparado, materiais adaptados, atendimento educacional especializado quando necessário.
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Saúde: acesso a consultas, exames, terapias e medicamentos sem barreiras físicas, de comunicação ou de preconceito.
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Brincar e conviver: parques, praças, brinquedotecas, igrejas, templos, festas e atividades de lazer pensados para todos, e não só para quem anda, enxerga, ouve ou aprende dentro de um padrão.
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Participação: ouvir a própria criança sobre seus medos, desejos, opiniões – dentro do que ela já consegue expressar.
Direito não é mimo. Direito não é “se der”.
É compromisso da família, da escola, das políticas públicas e da sociedade inteira.
A família também precisa de cuidado
Por trás de cada criança com deficiência, quase sempre há uma rede de pessoas se desdobrando: mãe, pai, avós, irmãos, cuidadores, amigos.
Esse Dia também é oportunidade de:
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acolher o cansaço físico e emocional de quem cuida;
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oferecer apoio, informação e escuta sem julgamento;
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parar de dizer frases que machucam, como “Deus só dá uma cruz pesada para quem aguenta” ou “Nossa, eu não daria conta disso”.
Em vez disso, podemos perguntar:
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“Do que você está precisando hoje?”
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“Tem algo que eu possa fazer para facilitar a rotina de vocês?”
Pequenas atitudes fazem grande diferença.
Escola, igreja, praça, hospital: a inclusão começa onde a criança está
A inclusão não acontece só em leis e documentos. Ela se concretiza nos espaços onde a criança vive:
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Na escola: adaptar a atividade, e não excluir da brincadeira.
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Na igreja ou templo: providenciar intérprete, recursos visuais, acolhimento na evangelização ou catequese, em vez de dizer “ela não vai entender mesmo”.
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No parque e nas festas: pensar em brinquedos e dinâmicas acessíveis, não só em “cantinho separado”.
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Nos serviços de saúde: explicar os procedimentos com calma, respeitar o tempo da criança, facilitar a comunicação e garantir respeito à sua dignidade.
Cada espaço que se adapta manda uma mensagem poderosa:
“Você é bem-vinda, você é bem-vindo aqui, do jeito que você é.”
O que eu posso fazer, como pessoa comum?
Você não precisa ser especialista para fazer diferença. No Dia da Criança com Deficiência – e em todos os outros dias – você pode:
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Parar de olhar com pena e começar a olhar com respeito.
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Perguntar, em vez de supor: “Posso ajudar? Como?”
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Ensinar às crianças sem deficiência que brincar com o colega que tem deficiência é normal e bonito, não “caridade”.
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Defender a presença dessas crianças em todos os espaços, sem aceitar desculpas do tipo “não temos estrutura para isso”.
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Ouvir as famílias, sem frases prontas, sem julgamentos.
Uma infância que cabe em todos os corpos, jeitos e tempos
O Dia da Criança com Deficiência nos lembra que infância não tem modelo único.
Ela cabe em corpos diferentes, em tempos diferentes, em formas diferentes de falar, andar, sentir, aprender.
Quando a gente acolhe essa diversidade desde cedo, ajuda a construir um mundo onde nenhuma criança precise pedir licença para existir.
Que esta data não seja apenas um dia no calendário, mas um convite permanente para:
- ver a criança antes da deficiência,
- respeitar a deficiência sem negar a criança,
- e lutar, todos os dias, para que os direitos dela saiam do papel e cheguem à vida.
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