(Porque surdo que ouve ainda é surdo.)
A surdez não pode ser definida apenas pela ausência de sons percebidos. Ela é, antes de tudo, uma forma de estar no mundo, com identidade, cultura e modos próprios de expressão e compreensão. Reduzir a surdez ao uso — ou não — de aparelhos auditivos ou à quantidade de sons que se consegue ouvir é ignorar a profundidade dessa vivência humana.
Muitas pessoas surdas usam aparelhos auditivos ou implantes cocleares, o que pode levar à ideia equivocada de que deixaram de ser surdas. No entanto, o uso ou abandono desses dispositivos não determina a identidade da pessoa. A surdez não se apaga com o volume de um som ou com a tecnologia. Ela permanece como uma característica de vida, de percepção e de posicionamento social.
É importante lembrar que o surdo pode expressar-se de várias formas — por meio da Língua de Sinais, da fala, da escrita, da expressão corporal e de tantas outras linguagens possíveis. E o fato de conseguir se comunicar não anula sua condição de surdo. Pelo contrário: mostra a riqueza e a multiplicidade de formas de ser e de estar no mundo.
A escuta parcial não invalida a surdez. A identidade surda é construída na vivência cotidiana, nas experiências culturais, no pertencimento comunitário e no modo como o sujeito se reconhece. Não importa quantos sons um surdo escuta, mas como ele se compreende no mundo. A escuta, nesse caso, não é um fator determinante — mas sim o reconhecimento interno e social de sua trajetória e realidade.
É por isso que dizemos, com convicção: surdo que ouve ainda é surdo. Reconhecer essa verdade é um passo importante para respeitar as múltiplas dimensões da surdez e valorizar a pessoa surda em sua totalidade.
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