Assim como o luto por uma pessoa querida, a perda da visão envolve etapas emocionais que não seguem uma ordem rígida e não acontecem da mesma forma para todos. Ainda assim, compreender esse paralelo ajuda a acolher sentimentos, reduzir a culpa e permitir que a adaptação aconteça com mais humanidade.
1. A negação: “Isso não pode estar acontecendo comigo.”
Assim como no luto tradicional, a primeira reação costuma ser a negação.
A pessoa tenta convencer a si mesma de que é algo passageiro, que vai melhorar amanhã, que o exame está errado.
É um mecanismo de proteção da mente contra uma mudança profunda demais para ser assimilada de imediato.
No caso da perda visual, a negação pode surgir quando a pessoa evita buscar diagnóstico, continua tentando cumprir tarefas como antes ou minimiza sintomas. É a tentativa de manter o mundo como ele era.
2. A raiva: a revolta contra o que se perdeu
A raiva, no luto, emerge como pergunta: “Por que isso aconteceu? Por que comigo?”
Na perda da visão, esse sentimento pode se dirigir ao corpo, aos médicos, à vida, a Deus ou até a si mesmo.
É um momento delicado, pois a frustração se mistura com medo e insegurança.
Entender que essa raiva é parte natural do processo — e não sinal de fraqueza — ajuda a seguir adiante.
Expressá-la em um ambiente seguro (terapia, espiritualidade, grupos de apoio) é fundamental.
3. A barganha: “Se eu melhorar um pouco, prometo que...”
No luto emocional, a barganha é o estágio das tentativas mágicas ou promessas silenciosas para evitar a dor.
Na perda visual, a barganha pode aparecer como:
- promessas de mudar hábitos de vida para tentar reverter algo irreversível;
- busca incessante por tratamentos milagrosos;
- comparação com outras pessoas que “recuperaram a visão”.
Não é ingenuidade — é esperança tentando reorganizar o que ainda parece insuportável.
4. A tristeza profunda: a dor do que não volta
Quando a realidade se torna clara, vem a tristeza — que não deve ser confundida com fracasso.
Ela é um reconhecimento amoroso do que se perdeu.
Na perda visual, essa tristeza pode envolver:
- medo de perder independência;
- receio de ser um peso para a família;
- saudade de atividades que faziam parte da identidade;
- insegurança diante do futuro.
É uma dor legítima e humana.
É o coração entendendo que precisa renascer de outro jeito.
5. A aceitação: o novo mundo que nasce
A aceitação não é desistir nem “se conformar”.
É aprender a viver com novas ferramentas, novas possibilidades e novos caminhos.
Esse estágio — que no luto significa reconstrução —, na perda visual, significa:
- buscar adaptações;
- reorganizar a rotina;
- descobrir tecnologias assistivas;
- compreender direitos e oportunidades;
- desenvolver autonomia de outras maneiras;
- fortalecer vínculos afetivos.
A aceitação marca o início de uma nova história, não o fim da anterior.
Um ponto essencial: luto não é linha reta
Assim como no luto tradicional, a pessoa pode avançar, voltar, estacionar, retomar.
Pode ter um dia ótimo e outro devastador.
Pode aceitar em algumas áreas e sentir raiva em outras.
Isso é normal.
Cada trajetória é única, e cada pessoa tem o direito de viver o próprio tempo.
Família, amigos e redes de apoio: pilares fundamentais
A perda visual afeta não só a pessoa, mas todo o ambiente ao redor.
É fundamental que familiares e amigos:
- acolham sem infantilizar;
- ofereçam ajuda sem tirar autonomia;
- escutem sem julgamento;
- incentivem o uso de recursos assistivos;
- estejam presentes nas pequenas vitórias;
- compreendam que recaídas emocionais fazem parte do processo.
Quando o apoio é sensível e consciente, a pessoa com deficiência visual encontra força para reconstruir sua identidade.
Espiritualidade, psicoterapia e pertencimento
A fé, a filosofia, a psicoterapia e grupos de pessoas com deficiência visual são caminhos que ajudam a transformar dor em aprendizado.
Esses espaços lembram que não se trata apenas de “perder a visão”, mas de ressignificar a própria forma de enxergar a vida.
Conclusão: A visão pode partir, mas o futuro permanece vivo
O paralelo com o luto não é para reforçar sofrimento, mas para legitimar o que muitos vivem em silêncio.
A perda da visão é uma despedida, sim — mas também é um renascimento.
Quem passa por esse caminho descobre novas habilidades, cria novas formas de autonomia, encontra novas sensibilidades, e muitas vezes desenvolve uma relação mais profunda consigo mesmo, com a vida e com os outros.
Não é um caminho fácil.
É um caminho possível.
E ninguém precisa percorrê-lo sozinho.
Links úteis
(Para inserir ao final da postagem do blog)
- Federação das Associações de Pessoas com Deficiência Visual
- Direitos da Pessoa com Deficiência – Lei Brasileira de Inclusão
- Blog Cantinho dos Amigos Especiais
- Rede Nacional de Reabilitação Visual
- Cartilha de Acessibilidade para Pessoas com Baixa Visão
Se quiser, Yaya prepara também a imagem para o Instagram e a chamada com hashtags e CTA. Quer que eu siga?
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