Em sua pesquisa de pós-doutoramento realizada junto ao National Museum of Natural History Smithsonian Institute, dos Estados Unidos, o Professor da Universidade Federal de Pernambuco, Francisco Lima, inovou ao focar no universo dos insetos viabilizando o estudo e aprendizado pelas pessoas cegas. Ele desenvolveu um método de tradução visual, unindo a descrição científica de artrópodes com as técnicas e diretrizes tradutórias da áudio-descrição. Ou seja, recurso utilizado para que pessoas com deficiência visual tenham acesso às imagens, como em figuras, fotografias, vídeos, e outras configurações.
“A beleza que a biodiversidade apresenta aos olhos de quem enxerga não pode ser negada aos olhos e aos ouvidos de quem não vê”, enfatiza. Por isso, desenvolveu um modelo que pode ser utilizado por cientistas e tradutores visuais para tornar os fenômenos visuais da entomologia acessíveis para estudantes, professores e pesquisadores com deficiência visual. Como professor e homem cego, ele entende que a ciência – e a diversidade dos insetos- precisa ser acessível a todos, independentemente de enxergarem ou não.
Apesar de ressaltar que tem havido grande esforço para tornar os fenômenos visuais – que estão costumeiramente indisponíveis às pessoas com deficiência visual – acessíveis por meio de palavras escritas, sinalizadas ou oralizadas, ele pondera que a áudio-descrição é o recurso que torna as imagens possíveis às pessoas cegas ou com baixa visão. Um programador cego, Luiz Eduardo Porto Mariz, ajudou na viabilização do aplicativo interativo móvel batizado de SnapSects. Uma ferramenta acessível e inclusiva em três versões: SnapSects Academic, SnapSects School, e o SnapSects Web, que permite a classificação taxonômica e descrição científica de artrópodes.
“Como você descreveria um grilo? Perguntou o professor para a reportagem da Câmara Paulista de Inclusão. Como um estudante cego pode fazer provas baseadas em desenhos e mapas sem recursos apropriados?
“Há muitos jovens com deficiência visual que vão prestar o Enem e uma ferramenta como o aplicativo SnapSects pode ajudar esses alunos a se prepararem para tão importante certame. Mas para isso, os professores precisam se conscientizar de que a inclusão dos alunos com deficiência depende da atitude proativa dos docentes”, alertou.
Com a pesquisa, o brasileiro foi agraciado com o prêmio “Prêmio Dra Margaret Pfanstiehl Memorial em Áudio-descrição – Pesquisa e Desenvolvimento”, conferido pelo American Council of the Blind/Audio Description Project. O professor Francisco Lima, que também recebeu o prêmio Barry Levin, é o único brasileiro a fazer parte do Audio Description Advisory Committee, da Academy for Certification of Vision Rehabilitation and Education Profissionals (ACVREP).
Texto: Adriana do Amaral
Nenhum comentário:
Postar um comentário