quinta-feira, 3 de março de 2016

“Cadeirantinhos” sem transporte escolar é condenação futura ao assistencialismo




Caro seu prefeito Haddad,

Aqui quem escreve é o seu Jairim, um “malacabado” das partes, já meio capenga também devido à idade e à qualidade imprestável das calçadas de São Paulo que sacolejam meu corpo à exaustão e também minha cachola já não muito certa.

Mas não me dirijo ao sr. para resmungar da infraestrutura urbana, novela que já assistimos até no “Vale a pena ver de novo”, mas, sim, para lembrá-lo do estrago permanente que causou e está causando na vida de centenas de crianças com deficiência da rede municipal de ensino com o não fornecimento do serviço de transporte acessível que as levem para a escola.

Não importam aos “malacabadinhos” e às suas famílias, seu prefeito, se o problema com as Kombis está na intransigência dos prestadores de serviço que querem mais “dilmas” para continuarem cumprindo a missão de levá-los às casas do saber.

Eles já possuem preocupações demais, seu prefeito. São madrugadores porque precisam de mais tempo para tomar um banho, se arrumar e, em alguns casos, colocar seus aparelhos ortopédicos, fazer suas sessões de fisioterapia ou simplesmente se acomodarem de maneira confortável na cadeira de rodas.

Deixar de ir para a escola para uma pessoa com deficiência é condená-la a viver sob aos atrasos assistencialistas e tirar delas uma das poucas maneiras de conseguir, no futuro, alguma dignidade social, que é o alcance do conhecimento.

Não fosse São Paulo uma cidade tão hostil com as diferenças no transporte público, na qualidade de seus passeios e por suas complexas distancias entre as moradias e os serviços, seu prefeito, pode apostar que mães e pais dessa molecada que se desloca sobre rodas estariam “camelando” sem medir a quantidade de suor deixado pela estrada para que os filhos chegassem até a sala de aula.

Teria sido genial se toda a frota de carros oficiais que servem aos secretários e até mesmo ao senhor fosse colocada à disposição para conduzir parte dessa galera quebrada para a escola. Talvez não coubesse todo o mundo, mas menos gente ficaria mais próxima da indigência provocada pela ignorância.

Também teria bacana se houvesse um anúncio de que os dias de aula perdidos pelos “cadeirantinhos” à revelia de suas vontades fossem compensados com atividades de cidadania para toda a turma, com apresentações sobre o valor das diferenças, com espetáculos que demostrassem o potencial de pessoas fora da curva da dita “normalidade”.

Até agora, porém, o que foi divulgado foi que, EM QUINZE DIAS, tudo vai estar resolvido e bola para a frente. Vergonhoso é adjetivo pequeno para isso. Eu prefiro usar desumano.

Tenho certeza que como o sr. foi ministro da Educação, o que gaba-se sempre em dizer, vai sentir como eu a mesma dor coronária ao pensar nos reflexos desta negligência do poder público.

Um abraço e saudações inclusivas.


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