segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Febre do stand up paddle ganha versão acessível ao cadeirante


Esporte cada vez mais praticado no mundo, o stand up ganhou modelos com adaptação para
deficientes que já estão sendo usados no Brasil.

11/01/2015 22h47
Atualizado em 12/01/2015 00h20

Verão, muito calor e a água convidando pro mergulho. O stand up paddle, aquele parente próximo do surf, que é feito com uma prancha a remo, está cada vez mais popular e até mais acessível, inclusive para cadeirantes.
Guarujá. Foi no litoral de São Paulo que Taíu Bueno começou a surfar com 12 anos. Aos 20, foi morar no Havaí e virou profissional. Em 1984, foi campeão brasileiro. Depois disso, passou a competir nos circuitos mundiais, sempre se destacando nas grandes ondas. Em 1991, estava participando do circuito mundial e do brasileiro quando a queda em uma onda pequena, perto da areia, em Paúba - litoral Norte de São Paulo - mudou completamente seus planos. Taíu perdeu os movimentos do pescoço para baixo e passou 18 anos sem pegar onda. Desde 2010, voltou a surfar.
"Mas, que loucura! Eu não faço nada. Sento na prancha e tenho a mesma emoção que eu tinha antes. Eu estou nessa prancha e tenho o meu coração, minha emoção, minha alma. Minha alma está de novo deslizando. E, pô, deslizar é tudo né?”, explica Taíu.
Desde o acidente, no auge da carreira, Taíu não se conformava em ficar longe do mar.
“Eu chorava, eu falava ‘meu, olha aquela onda e o cara vacilou. Por que sou eu que estou aqui? Socorro!’”, conta o surfista.
Com muito apoio dos amigos, conseguiu adaptar uma prancha. Ela é grande para dar estabilidade. Tem um assento especial e precisa da ajuda de mais duas pessoas. “Eu fiquei muito empolgado. Fiquei muito pirado. Chorava. Falei ‘imagina as outras pessoas podendo passar por isso’”, relembra Taíu.
É o caso do publicitário Alexei Schenin, o Ksei, que veio surfar pela segunda vez na prancha do Taíu! “Você vai ouvindo, a onda vai chegando, o mar vai chegando, chegando. Rema, rema, rema. O coração vai batendo, batendo, batendo. Vai, vai, vai. Rema, rema, rema. Desce, aí é só alegria”, narra Alexei.
O acidente do publicitário foi em 2002. “Bebi demais e tinha uma moto. Álcool e direção não é legal. Acabei saindo da balada bem tarde, dormi no guidão da moto e sofri o acidente.” Ele ficou com movimentos limitados das pernas e das mãos. “Sempre gostei de surfar, Sempre gostei de fazer qualquer coisa que fosse radical. Surfava e hoje surfo. Não tem limite. O que é limite está na nossa cabeça”, garante Ksei.
E não é só no Guarujá que tem gente superando limites. O stand up, que é cada vez mais praticado no mundo inteiro, ganhou uma versão acessível ao cadeirante em Brasília, no Lago Paranoá. A ideia surgiu em janeiro de 2014. “A gente já tem um trabalho aqui nesse parque de preservação e de trazer o esporte pra comunidade. E o Gabriel apareceu como um anjo”, conta o educador físico Daniel Badke Lino.

Gabriel Duarte de Souza, Relações Públicas, perdeu os movimentos da cintura para baixo em um acidente de carro em 2011. “Voltando de uma festa, dormi no volante, Capotei. Fiquei paraplégico. Minha vida era a noite só, nada de esportes”, conta. Até que Daniel fez o convite, que só foi aceito por Gabriel após alguma insistência.
Diferente do surf no Guarujá, a prancha é exatamente a mesma usada no stand up paddle convencional e a cadeira é a do próprio cadeirante. A adaptação fica só na forma de amarrar uma à outra. “Estudamos um jeito certo, um jeito que fique realmente presa. A gente amarra as rodas separadas para ter a certeza que ela não vá virar e a prancha ficar. Então, se virar a cadeira, vira tudo junto”, explica Daniel.
Ele garante que é seguro. Para isso, antes testa cada cadeira amarrada e, durante o stand up paddle, sempre tem um instrutor por perto.
Fantástico: E se a cadeira virar?
Daniel Badke Lino, educador físico: A gente vai vir para fazer o resgate na hora.
Fantástico: E qual a sensação quando você está no meio do lago, na sua cadeira, em cima da prancha?
Gabriel: Liberdade.
Depois de tanto ver, a repórter Flávia Cintra tentou também. Algumas instruções depois, já estava deslizando no Lago Paranoá.
“Quando a gente entra no lago e sai, a sensação é outra, de paz”, diz Gabriel. É o que sentem Taíu e Ksei quando saem das ondas lá no Guarujá. “Você deixa tudo que é ruim no mar, Você sai limpo, leve”, conta Ksei. “Faz um bem pra minha alma que você não tem noção!”
“Na verdade, o segredo é viver. Correr atrás das coisas, todo mundo faz isso. Depende do momento da pessoa. No meu caso, eu preciso fazer isso. Poxa, se eu posso fazer, mergulhar correr atrás, por que você não pode levantar do sofá e andar na praia?”, questiona Alexei.

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