quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O poder de escolha da pessoa com deficiência em relação à acessibilidade

Ricardo Shimosakai
 
A falta de acessibilidade acaba causando inúmeras restrições às pessoas com deficiência, em diversas situações, e no lazer e turismo infelizmente isso não é diferente.
É fácil perceber que a acessibilidade não está presente em tudo. O número de hotéis, restaurantes, transportes, atrativos turísticos, entre outros itens que compõem o turismo, e que possuam acessibilidade,’ ainda é minoria. Somente com essa observação, já podemos restringir drasticamente os locais em que pessoas com deficiência tenham condições de frequentar.
Poucos podem ser considerados estabelecimentos ou serviços com acessibilidade universal, que atendam a diferentes tipos de pessoas com deficiência. Então o nível de acessibilidade, varia de acordo com o tipo de deficiência. E mesmo aqueles que possuem iniciativas para receber uma pessoa com deficiência, na maioria das vezes tem uma acessibilidade falha ou incompleta.
Porém, esta questão é mais profunda. Para exemplificar, vamos pegar o segmento de hotéis. Em muitos hotéis, existem quartos com diferentes tipos de classificação, que variam de acordo com seu tamanho e conforto. Standard, Luxo e Presidencial, são alguns dos nomes utilizados para diferenciá-los. Geralmente, todos os quartos acessíveis de um hotel são idênticos, e de acordo com as características de tamanho e conforto, são identificados em uma classe, para se ter uma referência de suas características e também para determinar seu preço.
Mas como foi citado anteriormente, todos os quartos acessíveis são idênticos, então não existe uma possibilidade de escolha. Pessoas com deficiência são obrigadas a se hospedar no quarto disponível, sem a possibilidade de pagar uma tarifa menor em um quarto de categoria inferior, ou de optar por um melhor conforto em um quarto de categoria superior, pois só existe um tipo de classificação para o quarto acessível.
Esse tipo de situação também pode ser encontrado em locais como teatros, casas de show, estádios e outros locais que apresentam diferentes tipos de assentos. Estes locais geralmente oferecem uma área mais popular, outra com melhor localização e visibilidade, e camarotes com maior conforto e privacidade. Mas da mesma forma que os hotéis, na maioria das vezes, os locais para pessoas com deficiência são poucos e sem oportunidade de escolha.
Trazendo o foco para as pessoas com deficiência visual, há casos específicos onde a escolha é dificultada por alguns fatores. Um restaurante possui uma grande variedade de alimentos e bebidas para escolha, que são oferecidas através de um cardápio. Caso não haja um cardápio em Braille, um cego fica condicionado à uma pessoa que possa ler o cardápio, ou optar pelas sugestões do garçom. Mas isso acaba limitando o cliente cego, pois dificilmente alguém consegue ditar todas as opções existentes, além de demandar mais tempo, o que é ruim para o cliente e também para o estabelecimento.
Em algumas situações, a oferta da acessibilidade já está se tornando insuficiente, devido ao aumento da demanda de usuário. Hotéis possuem um número pequeno de quartos, geralmente abaixo dos 5% do total de quartos exigidos. Transportes como ônibus urbanos, geralmente oferecem somente 1 espaço para cadeira de rodas, além da proibição no ingresso ao veículo caso este espaço já esteja sendo ocupado. Faltam equipamentos em aeroportos como ambulifts (carros-elevadores), gerando filas de espera para sua utilização de até mais de uma hora.
Esta matéria foi escrita por Ricardo Shimosakai para a Revista Reação – Revista Nacional de Reabilitação. Ano XV, Número 88, setembro/outubro 2012, página 108.

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