O cadeirante José Antônio Almeida Pereira, conhecido como ‘Padeiro’, de 49 anos, denunciou à Polícia Civil e à Promotoria da Pessoa com Deficiência que um suposto funcionário da Secretaria de Estado da Saúde (SES), identificado como Reis, está vendendo cadeiras de rodas que deveriam ser destinadas gratuitamente às pessoas com deficiência. O cadeirante, que disse ao Jornal Pequeno ter sido vítima do esquema, afirmou que as cadeiras, que têm preço de mercado de R$ 1.800, em média, estariam sendo vendidas a R$ 500 e R$ 600. O caso está sendo investigado pelo 9º Distrito Policial (São Francisco).
Segundo José Antônio, que também é atleta e coordenador da Associação do Lesados Medular (ALM), no dia 5 de agosto de 2011 ele teria sido abordado por um homem desconhecido, que teria lhe oferecido uma cadeira de rodas por R$ 800, mas ressaltou que caso ele adquirisse quatro, o valor cairia para R$ 500 cada.
‘Padeiro’ afirmou que, no momento da abordagem e durante toda a negociação, o homem evitou falar sobre a procedência das cadeiras, frisando apenas que o pai havia morrido e que ele precisava vendê-las.
‘O produto era do fabricante Ortobrás, referência na produção de cadeira de rodas e com um dos melhores pneus do mercado, que é o 7.5 com câmara de ar. Não pensei duas vezes, afinal eu já tinha vários processos na SES no intuito de conseguir uma, mas nunca tive retorno; então, decidi comprar’, disse José Antônio. O cadeirante contou que marcou com o homem a entrega de duas cadeiras em sua residência, pelo valor de R$ 500. Porém, o homem teria levado apenas uma, sob a justificativa de que havia acabado de vender a outra. Segundo o cadeirante, para sua surpresa, no ato da entrega, um suposto funcionário da SES, conhecido como Reis, estava na companhia do homem com o qual o negócio havia sido feito. Foi o próprio Reis quem retirou a cadeira do carro e entregou ao cadeirante.
‘Eu o conhecia, e percebi que ele ficou sem graça quando viu que era eu o comprador do produto. Eles foram a minha casa pela manhã, mas eu disse que só teria o dinheiro por volta de 14h do dia seguinte. Então o homem com quem negociei quis levar a cadeira e trazer depois, mas o Reis, que já me conhecia, falou que eu podia ficar com a cadeira, e que no outro dia ele voltaria para pegar o dinheiro’, relatou ‘Padeiro’.
O cadeirante contou ao JP que no dia seguinte o suposto funcionário da SES não apareceu, mas mandou outro homem efetuar a cobrança. No entanto, José Antônio disse ao homem que não pagaria ‘um centavo’ pela cadeira de rodas, uma vez que ela pertencia à Secretaria de Saúde e, portanto, era ilegal vendê-la. ‘Padeiro’ também afirmou ao homem que denunciaria o esquema à polícia.
‘A partir daí, comecei a ser intimidado. Me telefonavam várias vezes, dando prazos para eu devolver a cadeira, caso contrário tomariam ‘providências’. Por fim, disseram que, se eu devolvesse a cadeira, eles pegariam meus três processos e agilizariam para eu receber três cadeiras, mas não aceitei e decidi denunciar o caso à Justiça e à polícia’, disse José Antônio.
O caso passou, então, a ser acompanhado pelo coordenador do Fórum Maranhense de Entidades de Pessoas com Deficiência e Patologia, Dílson Bessa, que, junto com José Antônio, comunicou o fato à SES e ao Conselho Estadual de Saúde.
‘O Conselho se comprometeu em apurar a denúncia, mas até o momento não deram nenhum posicionamento sobre as investigações administrativas’, afirmou Dílson Bessa, que garantiu ao JP que Reis continua não só exercendo normalmente suas funções dentro da SES como também vendendo outras cadeiras de rodas.
‘O Maranhão possui mais de 1 milhão de pessoas com deficiência, sendo 112 mil só em São Luís. Infelizmente, muitos pedidos dos cadeirantes, que são protocolados no setor de Órtese e Prótese da SES, não são atendidos. Há muita solicitação e pouca entrega. No interior, principalmente, muitas crianças portadoras de deficiência deixam de estudar por falta de condições de locomoção’, afirmou Dílson Bessa.
Polícia investiga – O delegado Sebastião Cabral, do 9º Distrito Policial (São Francisco), responsável pela investigação do caso, disse ao JP que várias pessoas já foram ouvidas, entre elas o cadeirante identificado como Valter Azevedo de Castro, que também teria adquirido, na mesma época que ‘Padeiro’ e pelo mesmo esquema, uma cadeira de rodas no valor de R$ 600. Valter revelou à polícia que em agosto de 2011 passou um período internado no Hospital Sarah Kubitschek e lá conheceu um homem que teria vendido as cadeiras a ele e a outros dois pacientes, também portadores de deficiência, sendo um do interior do Maranhão e o outro de fora do estado.
De acordo com o delegado Sebastião Cabral, Valter Azevedo disse em seu depoimento que o homem que fez a entrega da cadeira de rodas a ele estava num Celta preto, mas nunca revelou sua identidade nem a procedência das cadeiras.
Diante do fato, o delegado solicitou a apreensão das cadeiras de Valter e de José Antonio. ‘Já convoquei para depor a funcionária do setor de Órtese e Prótese da SES, Jaqueline Ribeiro, e na sequência vou solicitar ao setor de Recursos Humanos da SES o nome completo e a função do tal Reis, pois até agora não sabemos quem ele é e nem o que faz na secretaria. Vou pedir também a relação de pacientes que estavam internados no Sarah Kubitschek na época em que o Valter esteve lá para tentar localizar as outras pessoas que também adquiriram as cadeiras de rodas’, informou Sebastião Cabral.
‘O caso ainda está em fase de apuração. Portanto, ainda é cedo para afirmarmos quantas cadeiras já foram vendidas no suposto esquema criminoso e quantas pessoas podem estar envolvidas nesse esquema’, afirmou o delegado. Nota da SES – Em nota enviada ao JP, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que nenhum servidor da SES foi identificado pelo nome de ‘Reis’, nem no Almoxarifado e tampouco no setor competente (Órtese e Prótese).
Também de acordo com a SES, o secretário Ricardo Murad solicitou à Secretaria de Segurança Pública a apuração do caso e punição dos eventuais envolvidos.
Murad também orientou as pessoas que porventura sejam abordadas com a proposta relatada na matéria que denunciem imediatamente o caso à polícia e aos órgãos competentes.
Fonte:DeficienteCiente
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