segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

´Cidade dos primos’ teme ver novos filhos nascer com alguma deficiência

Em Bernardino Batista, na divisa da Paraíba com o Ceará, quase todo mundo é parente. É um tal de primo casar com primo.


Na cidadezinha do interior da Paraíba, cada nascimento é cercado de muita apreensão. Terra dos primos casados, Bernardino Batista fica na Paraíba, divisa com o Ceará. “É uma grande família”, diz uma moradora.

Uma família de três mil moradores ligados por laços de sangue e um recorde: de cada dez casais da cidade, quatro são de primos. “Nós somos cinco filhos. Quatro casaram com primos”, conta uma professora.

Mas como explicar essa atração entre parentes? “Se gostam e aí casam”, resume uma senhora. Francisca ficou viúva de um primo e não teve dúvidas: escolheu outro primo para casar. “Se acontecer de não dar certo com ele, eu procuro outro primo”, se diverte.

Os avós da Dona Margarida eram primos de primeiro grau. Os pais dela também, e a Dona Margarida escolheu um primo legítimo para se casar, assim como a irmã dela. E há outros quatro casamentos marcados na família entre primos.

A família Marinho se transformou um caso digno de estudo por apresentar 16 parentes surdos. Ela teve seis filhos. Três nasceram surdos e uma com problema mental. Os casos de surdez se repetem na família.

Mas por que o casamento entre primos pode por em risco à saúde dos descendentes? As características do pai e da mãe, como a cor do cabelo e o tipo de sangue, são transmitidas para os filhos por meio de genes. Vamos imaginar um casal em que o homem tem um dos genes defeituosos. Ele tem dois filhos que recebem essa mesma carga genética com problemas. Os irmãos se casam com outras pessoas e transferem os genes defeituosos para os filhos. Esses primos se casam e podem, assim, repassar os genes doentes para as crianças.

“Essas doenças que aparecem mais em primos são doenças que a gente chama de recessivas, que você precisa receber dois genes – um do pai e outro da mãe com erro genético – para aparecer a doença”, explica a médica geneticista Mayana Zatz.

O isolamento e os hábitos culturais ajudam a unir os casais de primos. Dona Antônia teve 15 filhos com um primo. Apenas seis sobreviveram. Quatro têm uma doença neurodegenerativa, em que perdem os movimentos e a fala.

“Normalmente os casais aparentados têm um casamento mais tranquilo, mas existe um risco biológico de nascimento de crianças com algum problema. Cada casal tem de conversar, fazer escolhas e assumir suas escolhas”, afirma uma especialista.

Nenhum comentário: